Centro Industrial do Brasil (CIB) - Nasce uma nova entidade

Em agosto de 1904, a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (SAIN) decidiu se fundir com o Centro Industrial de Fiação e Tecelagem de Algodão, originando uma nova instituição: o Centro Industrial do Brasil. O CIB herdou os bens patrimoniais da SAIN, que não eram muitos, bem como o seu modelo de estatuto. Mas havia uma grande diferença: o foco na defesa do setor industrial e da produção nacional. O desenvolvimento industrial nas últimas décadas deixava claro que os interesses desse setor eram bem distintos dos da chamada indústria agrícola. Ao longo dos seus mais de 60 anos, a SAIN havia representado diferentes setores da economia; as suas ações abrangiam a atividade agrícola e, de forma marginal, a industrial.
Inocêncio Serzedelo Corrêa, o último presidente da SAIN, foi eleito o primeiro presidente do CIB ainda em 1904. Luiz Rafael Vieira Souto, engenheiro e professor de Economia, assumiu a vice-presidência; Jorge Street, dono de fábricas de juta no Rio e em São Paulo, ficou como 1º secretário. Havia ainda os cargos de 2º vice-presidente, 2º secretário, 1º e 2º tesoureiros. Assim, a primeira diretoria, eleita excepcionalmente por um ano, reunia empresários do Rio de Janeiro, do interior fluminense e do sul de Minas Gerais ligados à indústria têxtil, de chapéu, de fósforo, de material de transporte e de cerâmica.
Entre os associados, havia também os empresários Eduardo Guinle e Cândido Gaffrée, ambos da Cia. Docas de Santos, que emprestaram uma soma razoável. O empréstimo ajudou a dar um impulso à nova entidade. A diretoria inicial foi reempossada no ano seguinte, sendo modificada apenas em 1912, quando Jorge Street tornou-se presidente do CIB.
A sede social do CIB foi instalada na rua Primeiro de Março, 103, no Centro da cidade, mudando-se para a avenida Rio Branco 58, em 1916. Em pouco tempo, a nova instituição já contava com 338 empresas associadas. A indústria brasileira crescia e se diversificava, e alguns pontos do estatuto do CIB refletem essa mudança. Havia, portanto, a necessidade de uma entidade que desse voz ao setor. Assim, um dos objetivos do CIB era o de preencher essa lacuna e ampliar essa voz para todo o território nacional.
Para tanto, foi prevista a formação de associações congêneres em outros estados a fim de estabelecer uma federação dos interesses industriais em todo o Brasil.
Outra novidade nos estatutos era procurar promover “o bem-estar do operariado, tendo em vista manter a maior harmonia de interesses e de relações entre os operários e as empresas”. O CIB se predispunha a intermediar “qualquer conflito” entre essas duas pontas, para que fossem “restabelecidas pelo melhor e, no mais breve prazo, as boas relações interrompidas”.
Ainda de acordo com os estatutos, o CIB “deveria dar continuidade à antiga revista da SAIN sob o título de Boletim do Centro Industrial do Brasil”. E assim foi feito. Em 1905, saiu o primeiro número da nova publicação, apresentando a recém-criada entidade, trazendo as atas das assembleias, os novos estatutos e um pouco do histórico da SAIN. Mas o Boletim teve vida curta, sendo publicado somente até 1907. Em 1910, foi substituído por relatórios bienais da diretoria do CIB.
Muitos dos assuntos tratados no Boletim eram problemas enfrentados pelo CIB e pelas indústrias nacionais desde o Império, como a questão das tarifas alfandegárias, da defesa da produção nacional em oposição à importação de mercadorias similares, ou seja, protecionismo versus livre-cambismo. Além desses assuntos, a atuação do CIB na década de 1910 foi marcada pelas reivindicações do movimento operário, que ganhava corpo desde o início do século.
Em 1919, os estatutos do CIB foram modificados, sendo acentuadas as ações de promoção ao desenvolvimento e de proteção a todos os ramos da indústria nacional; de representação nas relações com os demais setores econômicos; de promoção de acordos e entendimentos entre patrões e operários. Outra modificação foi a ampliação da diretoria, com o acréscimo de mais seis cargos. Nesse ano, ocorreu uma dissidência entre alguns dos associados do CIB, que fundaram o Centro dos Industriais de Fiação e Tecelagem.
Na década de 1920, a atuação do CIB concentrou-se na formação de associações de classe em diversos estados, desempenhando um papel de ligação entre elas. Em 1926, o engenheiro Francisco de Oliveira Passos tornou-se o novo presidente do CIB. Seu pai, Francisco Pereira Passos, havia sido prefeito do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, entre 1902 e 1906, sendo um dos responsáveis pela famosa reforma do Centro da cidade. Oliveira Passos, autor do projeto do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, era presidente da empresa Comércio e Indústria Paulo Passos S.A., especializada em madeiras e outros materiais de construção. Tornou-se também presidente do Sindicato das Indústrias de Serraria e do Centro dos Industriais de Serraria do Rio de Janeiro.
Na presidência do CIB, Oliveira Passos deu continuidade às ações em defesa da indústria nacional. Em 1928, enviou um memorial ao presidente Washington Luís, pleiteando medidas protecionistas, como a facilidade de crédito junto ao Banco do Brasil, estabilização cambial e elevação das tarifas aduaneiras para as manufaturas de lã e algodão. Em 1931, quando o CIB transformou-se em Federação Industrial do Rio de Janeiro (FIRJ), Oliveira Passos permaneceu na presidência da nova entidade.