I Convenção Industrial do Rio - Definindo as linhas mestras da indústria

Entre 1964 e 1966, viveu-se um momento raro para o Centro Industrial do Rio de Janeiro (CIRJ) e a Federação das Indústrias do Estado da Guanabara (FIEGA): estas entidades tiveram direções separadas. O cargo de presidente pertenceu, respectivamente, a José Bento Ribeiro Dantas e José Ignácio Caldeira Versiani. Após o golpe militar de 1964, decidiu-se manter a distinção para que a presidência do CIRJ tivesse mais liberdade para dialogar ou mesmo criticar o governo. Em 1966, cerca de 400 indústrias eram filiadas ao CIRJ.
José Bento Ribeiro Dantas trabalhava na companhia aérea Cruzeiro do Sul, desde 1935, quando ingressou como consultor jurídico. Em 1942, tornou-se presidente dessa empresa. Foi um dos fundadores da International Air Transport Association (Iata) após a Segunda Guerra Mundial, e chegou a ocupar a presidência da entidade entre 1947 e 1948. Já o engenheiro José Ignácio Caldeira Versiani era diretor da Companhia Brasileira de Fósforos, tendo sido secretário da Indústria do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Posteriormente, assumiu o comando das duas entidades.
Sob o patrocínio do CIRJ, em 1965, realizou-se a I Convenção Industrial do Rio de Janeiro, no Centro de Convenções do Hotel Glória, com coordenação de Victor Bouças, vice-presidente do Centro. O evento reuniu industriais de todo o Brasil para examinar e debater os temas do setor. Visava principalmente à coordenação de informações, o aumento de produtividade e a fixação de um programa de reivindicações dos industriais brasileiros.
Cerca de 500 industriais de todos os ramos e atividades compareceram à I Convenção, vindos de várias regiões do país, assim como representantes de órgãos federais, estaduais e municipais, que discutiram os principais problemas econômicos do Brasil. Reafirmou-se a posição dos empresários em favor da livre-iniciativa, da ampliação de financiamentos como incentivo ao desenvolvimento industrial, da simplificação do sistema cambial e da isenção para a exportação de manufaturados. Procurou-se traçar as diretrizes gerais que norteariam a atividade empresarial no país.
José Bento Ribeiro Dantas, presidente do CIRJ, fez o discurso de abertura da I Convenção, conclamando os industriais a continuarem suportando "os ônus do programa de estabilização do governo". Seria preciso adaptar-se às duras verdades que o novo sistema impunha: a verdade cambial, encarecendo as importações, consequência do câmbio liberado; a verdade tarifária, aumentando o preço dos transportes, pela adoção de tarifas baseadas no custo real dos serviços; a revisão dos débitos fiscais, decorrente da correção monetária; os novos impostos, a imposição do equilíbrio orçamentário. Frisou que a classe empresarial estava aceitando pacientemente, resignada, porque era uma imposição necessária para completar a estabilidade, porque “tudo foi feito pensando na coletividade”. A reunião deveria ser, portanto, de “opção e decisão” para escolher como e quando deveriam prestar colaboração e contribuir com o poder público.
Foram criadas 11 comissões, conduzidas por um empresário especializado de cada setor, para estudar e debater os problemas de desenvolvimento econômico, crédito e financiamento, comércio exterior, política industrial e livre-iniciativa, assuntos sociais, trabalhistas e fiscais, produtividade, serviços de utilidade pública, expansão e integração e temas diversos.
Um dos temas debatidos, caro ao CIRJ, foi a falta de técnicos e mão de obra qualificada e a possibilidade de aproveitamento dos estudantes recém-formados nas faculdades e escolas superiores. Afirmou-se a necessidade de reequipamento dos centros de estudo da Guanabara e as ofertas de bolsas para cursos fora do Brasil. Vale ressaltar, também, a preocupação com o bem-estar social. A Comissão de Assuntos Sociais procurava acompanhar os problemas relativos ao tema, tais como: integração das favelas, educação, previdência social, habitação, alimentação, entre outros.
Posteriormente, foi publicado um resumo das teses e proposições, bem como as recomendações aprovadas no evento. O estudo sobre habitação, no qual se defendia a necessidade de simplificação dos processos utilizados para a concessão de licenças e a emissão de letras imobiliárias, foi enviado ao presidente da República. A solução para o problema social da habitação dependeria muito mais da modificação de certas burocracias do que de questões técnicas de construção civil. Para seus participantes, as conclusões obtidas na Convenção eram mais do que simples reivindicações de um órgão de classe para apresentar planos de trabalho e desenvolvimento. Eram um passo rumo ao futuro.