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O Brasil e suas riquezas - O primeiro censo industrial do país

01/1907

Em 1905, o ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas, Lauro Müller, do governo Rodrigues Alves (1902-1906) encarregou o Centro Industrial do Brasil (CIB) de promover um estudo sobre a situação econômica do país, fornecendo subsídios para a sua elaboração e publicação. O trabalho teve a supervisão do engenheiro Vieira Souto, vice-presidente do CIB, que convocou especialistas e enviou emissários a todos os estados para a coleta de dados. O resultado do trabalho foi O Brasil. Suas riquezas naturais, suas indústrias, obra publicada em três volumes, que compreendiam: introdução e indústria extrativa (1907); indústria agrícola (1908); indústria de transportes e indústria fabril (1909).

A ideia inicial era fazer uma obra de divulgação do Brasil no exterior, que seria traduzida e publicada em várias línguas. Um resumo dos trabalhos foi traduzido para o francês e publicado em Paris em 1910. No entanto, Vieira Souto destacou a importância desse estudo e de sua divulgação dentro do Brasil: “Como poderíamos fazer conhecido o Brasil no exterior se, até aqui, nós mesmos não conhecíamos tudo o que possuíamos? Como poderíamos refutar as apreciações injustas que tantas vezes em outros países se têm propalado acerca de nosso grau de civilização e progresso?”.

Os trabalhos relativos ao capítulo “Indústria” começaram em 1907 e resultaram em um verdadeiro censo industrial. Foi o primeiro levantamento estatístico sobre a produção fabril no país e originou um amplo panorama do Brasil economicamente ativo, do início do século XX, com riqueza de detalhes que vão desde valores da produção ao nome das empresas pesquisadas, incluindo dados relativos ao número de estabelecimentos fabris, emprego, energia utilizada, capital e valor da produção. O levantamento foi realizado em todos os estados, por agentes contratados pelo CIB.

Foram identificados 3.250 estabelecimentos, sendo que 20% estavam localizados na cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, que respondia por 30% da produção industrial do país e concentrava também 24% de operários do país. Em seguida, vinha São Paulo, com 16% da produção, Rio Grande do Sul com 7% e Minas Gerais com 4%. Havia um total de 151.841 operários empregados.

Os dados coligidos surpreenderam os próprios organizadores: a maior parte dos artigos de “mais largo consumo” nacional já era feita no país. A visão de um país essencialmente agrícola começava a mudar, apesar de a economia brasileira ainda depender da exportação de produtos como o café, o açúcar, a borracha, o cacau e o fumo. A indústria têxtil se destacava nos dados censitários: a produção nacional de tecidos de algodão já representava dois terços do consumo interno.

O mapa da produção fabril que surge desse censo pioneiro mostrava que o caminho já estava trilhado e os rumos do país seriam outros. O Brasil. Suas riquezas naturais, suas indústrias é um documento de valor inestimável não somente para a história do CIB e da indústria nacional, mas também para a história da formação econômica do Brasil.