As grandes estatais brasileiras - As primeiras grandes indústrias de base

Desde o final dos anos 1930, discutia-se a necessidade de uma grande usina siderúrgica e sua importância para o desenvolvimento industrial do país. A siderurgia era vista como a indústria-chave que impulsionaria outros setores. O Brasil possuía minério, mas não dominava a moderna tecnologia para a fabricação do aço. Após um discurso de Vargas insinuando apoio ao Eixo: Alemanha, Itália e Japão, as negociações de um empréstimo com os EUA se concretizaram e ficou acertada a entrada do Brasil na Segunda Guerra, apoiando as tropas aliadas contra as do Eixo.
Assim, o estado do Rio de Janeiro passou a abrigar um dos mais importantes marcos da industrialização do país, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), conhecida por Usina de Volta Redonda. Em 9 de abril de 1941, o então presidente, Getúlio Vargas, assina o decreto para a criação da CSN. Em operação desde 1946, o empreendimento fazia parte do Plano Siderúrgico desenvolvido pelo estado, com o apoio de importantes industriais do Rio de Janeiro.
Guilherme Guinle foi o primeiro presidente da CSN. Engenheiro por formação, Guinle era presidente da Companhia Docas de Santos, primeira sociedade aberta do país. Sua família havia se tornado proprietária da concessão em 1892, transformando-o no maior porto brasileiro. Guinle participou de inúmeros empreendimentos no país, tais como a construção de usinas hidrelétricas, a fundação do Banco Boavista e a criação da Fundação Gaffrée Guinle – com o objetivo de prestar assistência médica à população carioca. Desde 1931, participava da direção da Federação das Indústrias do Rio (FIRJ). Nesta década, Guinle já investia na exploração de petróleo, enquanto as discussões sobre existência do produto no país apenas começavam. Durante o Estado Novo (1937-1945), foi vice-presidente do Conselho Técnico de Economia e Finanças do Ministério da Fazenda.
Em 1940, Guinle foi nomeado por Getúlio Vargas presidente da recém-criada Comissão Executiva do Plano Siderúrgico Nacional, onde participou das negociações promovidas pelo governo brasileiro com vistas à obtenção de empréstimos no exterior que viabilizassem a concretização do plano. No ano seguinte, após a obtenção de financiamento junto ao Eximbank, nos Estados Unidos, ficou decidida a criação da CSN, que seria construída em Volta Redonda (RJ), cujo presidente, escolhido por Vargas, foi o próprio Guilherme Guinle. Deixou o posto em 1945, mas permaneceu como membro do conselho consultivo da CSN até o fim de sua vida.
A nova companhia, de economia mista, deveria se dedicar principalmente à produção de ferro e aço. Com o tempo, ampliou sua atuação nacional e internacionalmente, tornando-se uma das mais modernas siderúrgicas. Foi privatizada em 1993, passando a atuar, a partir de 1996, também em empreendimentos de infraestrutura no setor hidrelétrico. A CSN marcou o início do surgimento das grandes empresas estatais brasileiras, que incrementaram o processo de industrialização nacional.
Seguiu-se ainda a criação da Fábrica Nacional de Motores, da Cia. Vale do Rio Doce, da Cia. Nacional de Álcalis e da Cia. Hidroelétrica do São Francisco, todas elas originadas ao longo dessa década. Consideradas de interesse nacional, as novas empresas estatais reforçaram ainda mais a intervenção do Estado na economia. O Brasil entrava, finalmente, na era industrial com as grandes indústrias de base.