Pular para o conteúdo principal

Nicoláo Joaquim Moreira

Médico, cientista, destacou-se nos debates sobre imigração, escravidão e modernização econômica. Defensor da ciência aplicada e da indústria nacional, foi conselheiro do Imperador, dirigiu o Jardim Botânico e presidiu por 14 anos a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (SAIN). Morreu em 12 de setembro de 1894.
Publicado em 28/08/2025 - Atualizado em 17/10/2025 12:42
Nicoláo Joaquim Moreira. Crédito: Acervo Firjan
Nicoláo Joaquim Moreira. Crédito: Acervo Firjan

Filho de Nicoláo Joaquim Moreira e de D. Carlota Maria Gonçalves Moreira, homônimo de seu pai, Nicoláo Joaquim Moreira nasceu no Rio de Janeiro no dia 10 de janeiro de 1824. Iniciou os estudos ainda menino e concluiu o curso preparatório no Seminário Episcopal de São José. Ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde se graduou em Farmácia e, posteriormente, doutorou-se em Medicina em 1847, defendendo a tese “Breves considerações sobre a febre escarlatina”. Desde os tempos universitários, demonstrava interesse por temas científicos e sociais, e manteve ao longo da vida intensa atividade como autor e conferencista.

Ainda jovem, Nicoláo foi nomeado 2º cirurgião do Hospital Militar da Corte, em 1852, e passou a integrar, em 1855, a Comissão Sanitária de Sant’Anna. Tornou-se Membro Titular da Academia Nacional de Medicina em 1859, com a apresentação da memória “Breves considerações sobre o aborto provocado debaixo do ponto de vista médico-legal e humanitário”. Na mesma instituição, exerceu o cargo de tesoureiro entre 1861 e 1883, sendo uma das figuras centrais da organização ao longo deste período.

Nicoláu foi redator da revista O Auxiliador da Indústria Nacional de 1866 a 1892, órgão oficial da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (SAIN), onde também exerceu os cargos de presidente da comissão de agricultura (1866–1874), vice-presidente (1874–1881) e presidente entre 1880 e 1894. Como líder da entidade, destacou-se como articulador de políticas de proteção à produção e à indústria nacionais. Defendeu a abolição da escravidão, o estímulo à imigração europeia, a criação de escolas agrícolas, a modernização tecnológica do campo e a proteção tarifária à indústria nascente. Rejeitou propostas de importação de colonos asiáticos, que considerava incompatíveis com o projeto de civilização brasileira. Sob sua gestão, a SAIN tornou-se um dos principais espaços de formulação de políticas públicas para a indústria e a agricultura no Brasil do Segundo Reinado.

Na década de 1870, dedicou-se à pesquisa científica e à atividade docente. Em 1872, foi nomeado para o Museu Nacional, onde passou a lecionar agricultura a partir de 1876. Embora o foco principal de seu curso fosse a química agrícola, demonstrava grande conhecimento botânico. Entre 1876 e 1883, Nicoláo exerceu o cargo de subdiretor da seção de botânica do museu, tendo publicado dezenas de artigos sobre plantas medicinais brasileiras. Suas aulas e textos visavam aproximar a ciência das práticas agrícolas cotidianas, defendendo a valorização do saber técnico como elemento essencial para o progresso do país.

Com sólida formação técnica e grande prestígio intelectual, assumiu em 1883 a direção do Jardim Botânico, onde permaneceu até 1887. No mesmo período, atuou como redator da Revista Agrícola, de 1879 a 1887, publicando artigos sobre solos, adubos, culturas tropicais e experiências comparadas de países vizinhos. Participou de diversas instituições e sociedades científicas e culturais, como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), o Conservatório Dramático Brasileiro, o Liceu de Artes e Ofícios, a Sociedade de Aclimatação e a Sociedade Velosiana, mantendo-se sempre ativo nos debates públicos e acadêmicos.

Na década de 1880, participou ativamente dos debates públicos sobre imigração, tratando do tema em conferências no Museu Nacional e na Academia Imperial de Medicina.

Autor de mais de trinta livros e artigos, seus textos combinavam observações técnicas, críticas sociais e propostas de políticas públicas, revelando uma visão moderna e abrangente do papel do cientista na sociedade. Estudou com profundidade o problema econômico do trabalho após a abolição da escravidão, criticando o regime da imigração por cabeça e defendendo a criação de fazendas-escola e a difusão do ensino agrícola prático, tendo sido responsável pela reorganização da Quinta Normal, nome pelo qual ficou conhecida a Escola Central de Agricultura do Império, criada em 1875 no Rio de Janeiro, onde funcionavam cursos de formação prática e teórica para professores e trabalhadores agrícolas. Também foi autor do plano de uma organização para o ensino agrícola no Brasil apresentado para o Governo Imperial, publicado em 1882 e reconhecido oficialmente pelo governo.

Em 1888, o ministro Henrique d’Ávila o nomeou para examinar e reformar a Escola Agrícola da Bahia, onde demonstrou conhecimento técnico e visão pedagógica alinhada à evolução dos países mais civilizados.

Reconhecido com o título de conselheiro imperial, foi agraciado com a comenda da Imperial Ordem da Rosa, o grau de cavaleiro da Ordem de Cristo e o de Cavaleiro da Legião de Honra da França, esta última concedida em 1889 por sua atuação na Exposição preparatória para Paris. Membro e sócio de sociedades científicas nacionais e estrangeiras, como os Comitês Agrícolas da Itália, a Sociedade de Geografia de Lisboa, a Sociedade de Ciências Naturais do México e a Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses, destacou-se pelo empenho patriótico.

Já na República, foi presidente da Intendência Municipal do Rio de Janeiro em 1891, cargo no qual enfrentou resistência para implementar reformas. Escolhido para a comissão do planalto de Goiás e indicado para diretor das matas e jardins públicos da capital, faleceu antes de assumir essas funções.

Casado desde 1854 com Dona Maria de Jesus Pinheiro Moreira, morreu na cidade do Rio de Janeiro em 12 de setembro de 1894.

 

Fontes:

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE MEDICINA. Nicolau Joaquim Moreira. Disponível em: https://www.anm.org.br/nicolau-joaquim-moreira/. Acesso em: 29 jul. 2025.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA. A imigração chinesa e a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional no Segundo Reinado: o debate de Nicolau Joaquim Moreira. Disponível em: https://anpuh.org.br/uploads/anais-simposios/pdf/2019-01/1548874921_81eb831f86e97bee67dacea935cfcd9b.pdf. Acesso em: 29 jul. 2025.

CARONE, Edson. O Centro Industrial do Rio de Janeiro e sua importante participação na Economia Nacional (1827-1977). Rio de Janeiro: Editora Carone, 1977.

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1894. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/DocReader/893676/44713, http://memoria.bn.gov.br/DocReader/893676/44714, http://memoria.bn.gov.br/DocReader/893676/44715. Acesso em: 29 jul. 2025.

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1895. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/DocReader/893676/45096, http://memoria.bn.gov.br/DocReader/893676/45097, http://memoria.bn.gov.br/DocReader/893676/45098, http://memoria.bn.gov.br/DocReader/893676/45099, http://memoria.bn.gov.br/DocReader/893676/45100, http://memoria.bn.gov.br/DocReader/893676/45101. Acesso em: 29 jul. 2025.

TAVARES, Myrian Sepúlveda dos Santos. Museu Nacional (1889–1930). Dicionário da Primeira República, Arquivo Nacional. Disponível em: https://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario-primeira-republica/1135-museu-nacional-1889-1930. Acesso em: 29 jul. 2025.