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Mauro Ribeiro Viegas

O arquiteto, urbanista e professor catedrático de construção e estudos foi incumbido dos parques e jardins da cidade do Rio de Janeiro e colaborou na construção de Brasília. Foi vice-presidente do CIRJ, presidiu os conselhos Empresarial de Meio Ambiente e Empresarial de Recursos Hídricos e integrou o Conselho de Eméritos. Faleceu em 18 de outubro de 2022 aos 103 anos.
Publicado em 14/08/2025 - Atualizado em 17/10/2025 12:37
Mauro Ribeiro Viegas recebe Medalha do Mérito Industrial em 2002. Crédito: Acervo Firjan

“Fui aluno e professor. Arquiteto, realizando, executando. O arquiteto constrói a vida.” 

Mauro Ribeiro Viegas

Mauro Ribeiro Viegas nasceu no Rio de Janeiro no dia 20 de abril em 1919 e, ainda criança, foi morar em Florianópolis. Viveu na cidade até os 10 anos, quando Jocelyn, seu pai, faleceu. Naquele momento, Mercedes, sua mãe, estava no Rio acompanhando seu irmão Maurillo em uma cirurgia. Mauro veio sozinho de navio para o Rio encontrar a mãe.

- Eu tinha 10 anos. Quando cheguei, vi aqui a Praça Paris [no Centro do Rio], olhei isso, gostei imenso. Nunca mais esqueço. A fotografia que vi da [Avenida] Rio Branco, tinha mão e contramão na Rio Branco. Achei fantástico. - disse em entrevista ao documentário “Professor Mauro Ribeiro Viegas - Memórias de um brasileiro”, que está disponível no canal do Youtube da Concremat Engenharia e Tecnologia.

Estudou no Colégio Pedro II. Aos 18 anos, um novo baque. Perdeu sua mãe e foi morar com sua tia Consuelo. Estudou arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes. Na faculdade, foi eleito presidente do diretório acadêmico e fez parte de movimentos e comícios para que, na II Guerra Mundial, o Brasil ficasse ao lado dos Aliados (França, Reino Unido, Estados Unidos, União Soviética e China) e não com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Foi um dos responsáveis pela criação da Faculdade Nacional de Arquitetura, em 1945.

- Eu era do curso de arquitetura, interessados todos que nós tivéssemos uma faculdade, uma escola nacional de arquitetura. Uma manhã de agosto, passou o Presidente [Getúlio Vargas] aqui, de carro, e nós vimos e corremos atrás. Olha, o Presidente vai falar com o ministro Capanema, nós fomos rápidos em procurar falar com ele, mas não podíamos passar. E no pátio, o Gregório Fortunato, que era o segurança do Getúlio Vargas, disse: ‘Meninos, o que é que desejam?’ Queríamos falar com o Presidente sobre esse assunto. Getúlio subiu. Eu subi em seguida, e o Capanema disse [pra Mauro Viegas], ‘o que é que você vai fazer aqui?’ E o Getúlio saiu, nos cumprimentou. [Dissemos para o presidente: ‘Desejamos que seja criada a Faculdade de Arquitetura do Brasil. O dossiê da congregação já está com o Ministro’, e o Capanema, do lado. ‘Ministro, leve a despacho na próxima semana’. Quinze dias depois, Geraldo Mascarenhas, o chefe da Casa Civil, ligou para a minha casa para dizer, ‘Mauro Viegas, o Presidente acaba de assinar’.- conta emocionado no documentário.

Após se formar, Viegas aceita o convite para ser assistente do professor Edson Passos na Faculdade Nacional de Arquitetura. Aos 29 anos, se tornou doutor em arquitetura e passou a lecionar. Foi chefe do Departamento de Tecnologia e diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Implementou na Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, um laboratório que se tornou referência internacional e que mais tarde passou a levar seu nome: o Laboratório de Materiais e de Solo Professor Mauro Ribeiro Viegas.

Em 1952, fundou o Escritório Técnico Professor Mauro Ribeiro Viegas, uma empresa que prestava consultoria sobre materiais para empresas de construção. Em 1972, a empresa passou a se chamar Concremat Engenharia e Tecnologia S/A, que é a sigla de Controle de Concreto e Materiais. Foi o primeiro laboratório privado brasileiro de controle sistêmico das estruturas de concreto e de seus materiais.

Na cidade do Rio de Janeiro, durante a administração do prefeito João Carlos Vidal (1951-1952), Mauro ocupou o cargo de chefe do serviço do Departamento de Parques e Jardins e criou a função do guarda de jardim, funcionário responsável pela preservação de praças e parques. Depois assumiu a direção do departamento, e acompanhou a implantação dos jardins de Burle Marx no aterro do Flamengo. Em 1954, arborizou a Avenida Presidente Vargas, com um plano de plantio das árvores sem custo para a prefeitura. Ao trabalhar com prefeito Negrão de Lima (1956-1958), Viegas implantou um jardim no Largo da Carioca. Também colocou em prática o projeto de criação do sistema Guandu, visando à solução para os problemas de tratamento e abastecimento de água do Rio. No mesmo período fez o paisagismo do Palácio das Laranjeiras, residência da família Kubitschek durante a presidência de Juscelino.

No final da década de 1950, instalou na futura capital Brasília um laboratório com o objetivo de certificar que os materiais usados nas obras do Distrito Federal atendiam às necessidades da arquitetura moderna. Em 1978, criou a empresa Concrejato que cuidou da restauração de obras importantes como o Museu de Arte Moderna e o Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, e em São Paulo, a Estação da Luz e a Catedral da Sé. A Concremat também cresceu no período, sendo a primeira empresa a fazer obra de um edifício de concreto aparente, como a UERJ e o prédio da Petrobras. Em 1984, anunciou sua aposentadoria, passou o comando da Concremat para Mauro Viegas Filho e permaneceu no Conselho de Administração da empresa até 2014.

Após a aposentadoria na sua empresa, passou trabalhar em outras causas que considerava urgentes: a defesa do meio ambiente, das florestas e a busca para solução para a crise hídrica. Presidiu o Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (CEIVAP) e lutou para conseguir recursos através de cobrança de impostos de uso de água bruta para serem destinados a despoluição deste rio.

ATUAÇÃO NA FIRJAN

"É preciso defender a ideia de preservação da água, pois ela é um bem finito precioso para toda a humanidade. No século passado, tivemos conflitos pelo petróleo e, neste século que se inicia, os problemas serão gerados pela água. Temos que aprender a preservá-la, a usá-la sem desperdício.” 

Mauro Ribeiro Viegas ao Carta da Indústria

A história da Mauro Viegas na Firjan começa em 1995 quando ele assume a vice-presidência da Diretoria Plena do Centro Industrial do Rio de Janeiro (CIRJ), neste mesmo ano ele preside o Conselho Empresarial de Meio Ambiente da Firjan.

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Em 2001, foi criado o Conselho Empresarial de Recursos Hídricos, órgão que o Mauro Viegas presidiu da fundação até 2015. Na ocasião da criação do Conselho, em matéria na publicação Carta da Indústria, da Firjan, o arquiteto explicou que com a instituição da Política Nacional de Recursos Hídricos, o Brasil seguiu uma tendência mundial para o gerenciamento de recursos hídricos. Viegas defendeu o uso responsável e preservação para as próximas gerações.

- O caminho é educar, não multar. O problema, porém, é que, no Brasil, esta linguagem não é compreendida. Acredito que, agora, com a lei, haverá mudanças no perfil dos poluidores, por isso acho que o Conselho foi criado em boa hora. – disse em entrevista ao Carta da Indústria em 2001.

Em 2002, foi condecorado com a medalha do Mérito Industrial do Rio de Janeiro e, desde 2015, integrava o Conselho de Eméritos da FIRJAN/CIRJ.

Mauro Ribeiro Viegas faleceu aos 103 anos no dia 18 de outubro de 2022.

Fontes:

Documentário Professor Mauro Ribeiro Viegas - Memórias de um brasileiro, de novembro de 2017, disponível em https://youtu.be/X3etBLdRZsM?si=dHfzgrEYylEwg8mL; acessado em 26 de março de 2025; Notícia do G1 “Arquiteto Mauro Ribeiro Viegas morre no Rio aos 103 anos”, disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2022/10/18/arquiteto-mauro-ribeiro-viegas-morre-no-rio.ghtml, acessada em 26 de março de 2025; Entrevista com Mauro Viegas Filho pelo projeto Memória da Indústria da Firjan, realizada em 25 de março de 2024; Página “quem somos do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul – CEIVAP”, disponível em https://www.ceivap.org.br/sobre-o-comite, acessada em 27 de março de 2025; Conselho Trabalhará pelo uso responsável da Água, Carta da Indústria, 25 de maio de 2001.