Jorge Luís Gustavo Street
Magnata do setor têxtil, foi presidente do Centro Industrial do Brasil (CIB), pioneiro na defesa de criação de uma legislação trabalhista e da legitimação da atuação dos sindicatos. Foi um dos fundadores do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), que em 1931 muda seu nome e passa a ser conhecida como Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). Morreu no dia 23 de dezembro de 1939.
Filho do austríaco de origem inglesa e francesa, Ernesto Diniz Street e da brasileira Heloísa Leopoldina Simonsen Street, Jorge Luís Gustavo Street nasceu no Rio de Janeiro, então capital do Império, no dia 22 de dezembro de 1863.
Estudou nos Colégios Almeida Martins e Vitória, no Rio de Janeiro. Fez curso de humanidades na cidade de Bonn, na Alemanha. De volta ao Brasil, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde formou-se em 1886. Dominava os idiomas francês e alemão e fez cursos de aperfeiçoamento em Paris, Berlim e Viena. Exerceu medicina no Rio de Janeiro e em Petrópolis.
A partir do ano de 1896, dedicou-se à indústria têxtil. Pouco mais tarde, adquiriu ações da Fábrica de Juta São João e tornou-se proprietário da fábrica Rnak. Foi início de longa e marcante atuação no setor. Em 1904, adquiriu a fábrica de juta Santana, no bairro do Brás, em São Paulo. Já em 1907, transferiu os equipamentos da fábrica São João para empresa Santana de São Paulo, construindo um importante parque de 15 mil fusos e 1.500 teares de juta.
Em 1909 construiu a fábrica Santa Heloísa, no Rio de Janeiro, especializada em tecelagem de algodão de tamanho médio. Mais tarde vendida para reforço do capital da Santana.
Street foi pioneiro na adoção de modalidades de assistência social e métodos de higiene e proteção a seus operários. Isso revolucionou completamente as relações de trabalho. Introduziu creche, jardim de infância e um grupo escolar em suas fábricas. Construiu casas para alugar a seus trabalhadores, assistidas com infraestrutura com restaurantes, ambulatório, farmácia, igreja, teatro, praça de esportes, salão de baile e centro literário. Instalou armazéns para a venda de gêneros de primeira necessidade a preços populares.
Foi membro do Conselho fiscal da Companhia Docas de Santos entre 1920 e 1928. Entre 1925 e 1929, devido a dificuldades financeiras, Jorge Street liquidou totalmente seus negócios industriais.
Jorge Street foi partidário de uma política industrialista pioneira à época. Acreditava na necessidade de uma política protecionista para a indústria e foi um dos poucos industriais a assumir posição favorável à regulamentação e implementação de uma da legislação trabalhista durante os primeiros anos do século XX.
ATUAÇÃO EM ENTIDADES ASSOCIATIVAS
Street foi eleito em 1900 para a diretoria da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (SAIN). Em 1903, esteve nas comissões do governo e na da Associação Comercial que estudaram a reforma tarifária pretendida pelo ministro da Fazenda, Leopoldo Bulhões. Como resultado, surgiram projetos que visavam a necessidade da adoção de mecanismos protecionistas. Porém, as propostas encontraram forte oposição dos setores ligados à lavoura cafeeira e a certos ramos industriais, por isso não chegaram a ser apresentadas ao Congresso Nacional.
Em 1904, com fusão da SAIN e do Centro de Fiação e Tecelagem do Rio de Janeiro surgiu o Centro Industrial do Brasil (CIB). Jorge Street tornou-se primeiro-secretário da diretoria da nova entidade e passou a escrever com frequência em defesa da indústria nacional e do protecionismo alfandegário, que entendia como responsáveis pelo aumento do custo de vida. Em 1912, assumiu a presidência do CIB.
Em meio a tensão pelo aumento contínuo do custo de vida, suspensão das exportações de trigo argentino para o Brasil e as denúncias feitas contra alguns importantes industriais envolvidos em atividades especulativas, em 1917, eclodiu uma greve na indústria têxtil Cotonifício Crespi. A crise se intensificou com a morte do sapateiro Martinez um militante anarquista em julho daquele ano. Jorge Street foi defensor das suas reivindicações junto ao patronato, que foi forçado a conceder 20% de aumento salarial para os trabalhadores.
Na ocasião disse ao jornal O Estado de São Paulo: “Eu já havia concedido o aumento de 20% nos salários e a [minha] fábrica trabalhava em plena força e na maior ordem, quando fui procurado por uma comissão de operários grevistas que me pediu em termos perfeitamente comedidos que concedesse folga ao nosso pessoal para que eles pudessem dar uma prova de solidariedade aos companheiros que ainda não tinham obtido o que desejavam. Reuni, então, no pátio da fábrica, a totalidade dos nossos operários — homens, mulheres e crianças, mais de 2.800 — e, comunicando-lhes o pedido recebido, disse-lhes conceder a folga solicitada por seus companheiros... Disse-lhes haver muita justiça na sua causa e ser a greve um direito reconhecido por todos nós; pedi-lhes, entretanto, que não confundissem greve pacífica com revolta tumultuária”
Em setembro deste mesmo ano de 1917, Jorge Street defendeu em artigo no Jornal do Comércio a concessão às mulheres trabalhadoras de licença de dois meses para o parto. Neste período, concedeu férias remuneradas para seus trabalhadores, o que causou mal-estar com outros empresários.
Em 1918, como presidente do CIB, Jorge Street defendeu posição em relação ao reconhecimento dos sindicatos operários, que considerava fruto da própria evolução do capitalismo. Em artigo nos periódicos O País e no Jornal do Comércio sugeriu a criação de uma legislação trabalhista, que no Brasil, só viria a ser adotada na década de 1930 e consolidada em 1943.
Após uma greve tomar conta de São Paulo em outubro de 1919, pleiteando a redução da jornada de trabalho para oito horas, Jorge Street foi um dos empresários que se opôs inicialmente à demanda, mas depois reviu sua posição após Francisco Matarazzo pontuar em reunião que os prejuízos da redução da produção seriam compensados pelo aumento dos preços.
Jorge Street ficou na presidência do CIB até março de 1926. Nesse mesmo ano, assumiu a presidência do Centro de Fiação e Tecelagem de São Paulo. Em junho de 1928, fez parte da diretoria do recém-criado Centro Industrial do Estado de São Paulo (CIESP), que teve Francisco Matarazzo como primeiro presidente, Roberto Simonsen como vice. Em 1931, o CIESP teve seu nome mudado para Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP)
Após a Revolução de 1930, foi nomeado diretor-geral do Departamento Nacional de Indústria e Comércio, órgão vinculado ao recém-criado Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e contribuiu para a elaboração de várias leis trabalhistas, inclusive a que regulou os sindicatos. Em 1934, foi diretor-geral do Departamento Estadual do Trabalho, em São Paulo, onde por dois anos exerceu as funções de consultor técnico da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), da qual foi um dos fundadores e integrou a primeira diretoria.
Foi casado com Zélia Frias, com quem teve seis filhos. Jorge Luís Gustavo Street morreu em São Paulo em 23 de dezembro de 1939.
Fontes:
CPDOC-FGV. Perfil de Jorge Luís Gustavo Street. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/STREET,%20Jorge.pdf. Acesso em: 3 jun. 2025.
CARONE, Edgard. O Centro Industrial do Rio de Janeiro e sua importante participação na Economia Nacional (1827-1977). Rio de Janeiro: Editora Carone, 1979.
COLÉGIO JORGE STREET. Biografia de Jorge Street. Disponível em: http://memorias.jorgestreet.com.br/33_jorge_street.html. Acesso em: 5 jun. 2025.
JORNAL DO COMMERCIO. Rio de Janeiro, 10 set. 1917. Disponível em: http://memoria.bn.gov.br/DocReader/364568_10/36759; http://memoria.bn.gov.br/DocReader/364568_10/36760. Acesso em: 25 ago. 2025. FIESP. História. Disponível em: https://www.fiesp.com.br/sobre-a-fiesp/historia/. Acesso em: 25 ago. 2025.