João Lagoeiro Barbará
Fundador do Conselho Empresarial de Infraestrutura da Firjan, o empresário do ramo da construção civil foi vice-presidente da instituição. Dentre muitos projetos, participou da modernização do setor de comunicação da Federação e das discussões para a construção do Arco Metropolitano.
“Eu tinha duas coisas que, desde que me lembro como pessoa, achava que iam fazer parte da minha vida. Uma era engenharia, nunca passou pela minha cabeça ser qualquer outra coisa que não fosse ser engenheiro. E a outra que me pegou e foi intensíssimo na escola, foi a aviação, já pequenininho eu tinha mania de avião. As outras crianças, meus primos, brincavam de carrinho, eu brincava de aviãozinho.”
João Barbará em entrevista ao Memória da Indústria
Nascido em Paris em 19 de abril de 1931, filho de João Reverbel Barbará, médico que fazia residência na França, e de Clio Lagoeiro Barbará, João Lagoeiro Barbará veio para o Brasil aos 4 meses de idade. Estudou no Colégio Santo Inácio, no bairro de Botafogo, e formou-se engenheiro civil pela PUC-RJ, em 1953.
Na universidade, tinha grande fascínio pela construção de barragens hidrelétricas. Na época, várias delas estavam sendo construídas no Brasil, como as Usinas de Furnas e de Três Marias. Logo após se formar, trabalhou para a Companhia Brasileira de Alumínio na construção da Hidrelétrica de Cachoeira do França, município de Juquitiba, no estado de São Paulo.
Aos 22 anos, segundo contou em entrevista ao Memória da Indústria, viveu uma experiência internacional importante. Representando as indústrias, foi delegado patronal na Conferência da Organização Internacional do Trabalho, em Genebra (OIT), onde presenciou discussões para o tratado que instituiu a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), conhecido como Tratado de Paris. Esse foi um dos passos iniciais para a criação da Comunidade Europeia.
Fundou a Construtora Barbará, que fazia pequenas construções e depois se juntou com amigos para trabalhar com terraplanagem para buscar, aos poucos, chegar perto do mercado das barragens.
Além da engenharia, a outra paixão de João Barbará era a aviação. Como piloto amador, viveu histórias inesquecíveis, como a vez que teve fazer um pouso forçado na Avenida Embaixador Abelardo Bueno, na Barra da Tijuca, quando estava a caminho do Aeroporto de Jacarepaguá. Sobreviveu, mas o avião foi destruído. Mesmo após o susto, continuou voando. Se aposentou da aviação apenas aos 86 anos.
Inovador, Barbará contou que através da sua empresa Sistema VSL Engenharia foi responsável pela introdução no Brasil de algumas tecnologias de ponta em pelo menos três áreas: na de concreto protendido, que é uma técnica de construção que utiliza aço para aumentar a resistência do concreto, e na movimentação de cargas superpesadas e na concretagem submersa.
Como membro do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (SINICON) foi um dos responsáveis pela criação da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que tem o objetivo de tratar das questões ligadas às áreas e representar os setores no Brasil e no exterior. Nos anos de 1980, Barbará se tornou presidente do SINICON. Por ser um sindicato nacional naquele momento, foi necessário vencer certa resistência para se juntar a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). A filiação ocorreu durante a presidência de Arthur João Donato.
Desafios na Firjan
Como representante do SINICON, Barbará fez parte do Conselho Superior de Representantes da Firjan de 1992 e 2016. Na Firjan, entre 1992 e 2004, fez parte da Diretoria Plena da Firjan e foi vice-presidente, 1º vice-presidente e 2º vice-presidente da instituição. Também foi 1º vice-presidente do Centro Industrial do Rio de Janeiro (Firjan CIRJ). Um dos seus primeiros desafios dentro da instituição foi modernizar a área de comunicação da Federação.
- A Firjan não tinha nenhum esquema de comunicação interno, nem externo. Então o Donato, com a sagacidade que tinha, me chamou e pediu para organizar. Nós fizemos um boletim que saia semanalmente. No Informe FIRJAN [publicação impressa] resumíamos tudo o que a diretoria e o conselho tinham feito naquela semana. Começamos a dar um formato mais profissional nessas comunicações internas da FIRJAN e a procurar um pouco mais os veículos de comunicação para estabelecer relações. Porque realmente a FIRJAN não tinha essa preocupação. (...) A Carta da Indústria eu participei da implantação, depois a estrutura da FIRJAN seguiu em frente. – contou.
“Tanto na FIRJAN como na empresa, a comunicação é uma das coisas mais importantes. A comunicação é a transferência de ideias de uma pessoa para outra. Isso durante muitos anos foi negligenciado, mas, hoje, cada vez mais está se dando à comunicação o valor que ela realmente tem.”
João Barbará em entrevista ao Memória da Indústria
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Em 1995, Barbará foi um dos responsáveis pela criação do Conselho Empresarial de Infraestrutura da Firjan, que juntava em um só órgão os diferentes agentes da área para que dialogassem sobre os problemas relativos ao setor. Hoje, o Conselho possui status de organismo de referência em infraestrutura, cujas análises técnicas e os posicionamentos geram propostas e informações que auxiliam decisões governamentais.
“A infraestrutura é uma necessidade orgânica de qualquer economia do estado. Tem que haver uma organização para produzir bens que a população precisa. Estradas, usinas elétricas, hidroelétricas, hospitais, centros científicos, urbanização, transmissão de energia, todos esses tipos de atividades são indispensáveis à sobrevivência de uma civilização moderna.”
João Barbará em entrevista ao Memória da Indústria
No Conselho Empresarial de Infraestrutura, Barbará comandou as discussões sobre a necessidade da construção do Arco Rodoviário Metropolitano no estado do Rio de Janeiro, uma visão que trazia consigo desde os anos de 1970. A obra, que visava desafogar o trânsito da Avenida Brasil, Rodovia Presidente Dutra, BR-040 e Rodovia Washington Luís a partir da criação de uma via alternativa, teve início em 2008 e a inauguração ocorreu em 2014.
O empresário trabalhou no projeto do Aeroporto Indústria, com o objetivo de revitalizar o Aeroporto Internacional Tom Jobim/Galeão, que estava subutilizado em um tempo que ainda não havia a discussão sobre a concessão à iniciativa privada, que ocorreu em 2013. A ideia era que o Galeão passasse a ter um regime especial de impostos com simplificação das documentações permitindo que o aeroporto funcionasse também como um local para reparos de aviões que estão longe de sua base ou oficinas, com preços competitivos. Apesar de muito discutida entre a Firjan e órgãos governamentais, a iniciativa acabou não seguindo adiante. Mas o espírito visionário não estava enganado, tanto que hoje o Galeão possui um pólo de reparação de aeronaves.
De 2001 e 2006, João Barbará foi representante da Firjan junto a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Entre 2009 e 2018, foi membro do Conselho Regional da Firjan IEL e entre 1999 e 2017, o empresário foi membro efetivo do Conselho Regional da Firjan SENAI SESI. Em 1991, foi laureado com a Medalha do Mérito Industrial do Rio de Janeiro. Em 17 de dezembro de 2015, passou a integrar o Conselho de Eméritos da Firjan, uma honraria que definiu como a retribuição de todo amor que ele dedicou a entidade.
Fontes:
Entrevista de João Barbará ao Projeto Memória da Indústria/FIRJAN, realizada em novembro de 2016; Entrevista de João Barbará ao Projeto Memória da Indústria/FIRJAN, realizada em 18/04/2024; Os Tratados Iniciais, disponível em https://www.europarl.europa.eu/factsheets/pt/sheet/1/os-tratados-iniciais#:~:text=O%20Tratado%20que%20institui%20a,se%20na%20via%20da%20integra%C3%A7%C3%A3o, acessada em 05/11/2024; Institucional CBIC, disponível em https://cbic.org.br/institucional/, acessado em 05/11/2024; Conselho Empresarial de Infraestrutura, disponível em https://www.Firjan.com.br/Firjan/empresas/competitividade-empresarial/conselhos-empresariais/conselho-empresarial-de-infraestrutura.htm; acessado em 05/11/2024.