Irineu Evangelista de Sousa, Visconde de Mauá
Barão e, posteriormente, visconde de Mauá, foi o maior empresário de seu tempo no Brasil Imperial. Reconhecido por sua ousadia e visão estratégica, destacou-se como pioneiro em diversos setores – construção naval, ferrovias, sistema bancário, energia e comunicações – liderando iniciativas que moldaram a modernização da economia brasileira no século XIX. Morreu em Petrópolis, em 21 de outubro de 1889
Filho de João Evangelista de Ávila e Sousa e de Mariana de Jesus Batista de Carvalho nasceu em Arroio Grande, Rio Grande do Sul, em 28 de dezembro de 1813. Órfão de pai aos seis anos, passou a viver sob a guarda do tio materno, José Baptista de Carvalho, capitão de barco dedicado ao comércio de cabotagem.
Ainda menino, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como caixeiro para o comerciante português João Rodrigues Pereira de Almeida, futuro barão de Ubá. Após a falência de seu patrão, ingressou, em 1830, na empresa de importação do escocês Richard Carruthers, com quem aprendeu inglês e contabilidade. Tornou-se sócio e, depois, diretor da firma Carruthers & Company. Em 1840, viajou à Inglaterra, onde teve contato direto com os avanços da Revolução Industrial e fundou, em Manchester, a Carruthers De Castro & Cia, em parceria com Carruthers e José Henrique Reynall de Castro. De volta ao Brasil, casou-se em 1841 com sua sobrinha Maria Joaquina de Souza Machado, com quem constituiu família.
Legado e atuação
O espírito empreendedor de Mauá se valeu das transformações da economia brasileira na segunda metade do século XIX. Em 1846, adquiriu o Estabelecimento de Fundição e Estaleiro da Ponta de Areia, em Niterói, que em dez anos construiu 70 navios e empregava cerca de mil operários. Apesar do incêndio que destruiu suas instalações em 1857 e da concorrência internacional favorecida por políticas alfandegárias, o empreendimento marcou a história industrial brasileira.
Sua capacidade de inovação levou-o a inaugurar a primeira estrada de ferro do Brasil, ligando o porto de Mauá à serra de Petrópolis (1854). Participou também de projetos ferroviários de grande relevância, como a Recife and São Francisco Railway Company, a Ferrovia Dom Pedro II (Central do Brasil) e a São Paulo Railway (1868), que conectava Santos a Jundiaí.
Na área de transportes, organizou companhias de navegação a vapor no Amazonas e no Rio Grande do Sul. No setor de energia, foi responsável pela criação da Companhia de Iluminação a Gás do Rio de Janeiro (1851), celebrada pela população carioca em sua inauguração. Já nas comunicações, trouxe para o país a instalação do cabo submarino que conectava o Brasil à Europa, evento saudado pelo periódico O Auxiliador da Indústria Nacional como “o grande precursor dos novos e incomensuráveis desenvolvimento e progresso que há de necessariamente ter a indústria brasileira”.
Mauá também foi protagonista no sistema financeiro. Criou o Banco do Brasil em 1851 (posteriormente absorvido pelo governo), além do Banco Mauá, Mac Gregor & Cia., com sede em Montevidéu (Uruguai) e filiais em Córdoba, Rosário e Rio Grande (Argentina) e Belém (Brasil). Sua presença na política se deu como deputado liberal eleito pelo Rio Grande do Sul entre 1856 e 1873, mas sua dedicação maior foi sempre ao setor empresarial.
Apesar de controlar um império econômico, sua postura liberal, abolicionista e crítica à Guerra do Paraguai o isolou da elite conservadora da época. Somaram-se a isso políticas que favoreceram o capital estrangeiro, crises financeiras e dívidas. Em 1875, declarou moratória de seu sistema empresarial. Ainda assim, fez questão de honrar parte de seus compromissos: “pagarei a todos, de modo a restaurar meu nome”, escreveu em carta pública. Morreu em Petrópolis, em 21 de outubro de 1889, aos 75 anos, deixando um legado de modernização que abriu caminho para a industrialização brasileira.
Fontes:
CALDEIRA, Jorge. Mauá - Empresário do Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
CARVALHO, Mariana. Visconde de Mauá. In: ERMAKOFF, George (org.). Dicionário Biográfico Ilustrado de Personalidades da História do Brasil. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2012.
FARIA, Sheila de Castro. Irineu Evangelista de Sousa (Visconde de Mauá). In: VAINFAS, Ronaldo (dir.). Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
TAVARES, Luis Henrique Dias. Da sedição de 1798 à revolta de 1824 na Bahia. Salvador: EDUFBA, 2003.
Sistema Firjan: a história dos 170 anos da representação industrial no Rio de Janeiro; Memória Brasil Projetos Culturais, 1997. No site Arquivo Nacional, Irineu Evangelista de Sousa, barão e visconde de Mauá, acessado em 10/09/2025.