Inocêncio Serzedello Corrêa

“Sem um plano geral, systematico e persistentemente executado por largos annos e que obedeça á preocupação de desenvolver as nossas fontes de produção, melhorar os nossos portos, amparar e proteger as nossas indústrias, diminuir ou suprimir os direitos de exportação e nacionalizar uma grande parte dos lucros que o exercício da atividade comercial e industrial vae creando entre nós, impossível será dar solução ao problema econômico. Continuaremos fatalmente a ser o que somos e o que temos sido – uma colônia – de tempos a tempos agitada e perturbada por crises que irão desmoronando a fortuna pública e particular.”

Extraído do livro “O problema econômico no Brasil”, escrito por Serzedello Corrêa em 1903

Nascido em Belém do Pará, em 16 de junho de 1858, Inocêncio Serzedello Corrêa é filho de Ambrósio Pinheiro Corrêa e Carolina Serzedello Corrêa. Ficou órfão de pai aos onze anos e foi educado gratuitamente no Seminário Menor de Santo Antônio. Com apenas dezesseis anos, tornou-se soldado raso no Exército e mudou-se para o Rio de Janeiro para cursar a Escola Militar da Corte, onde se destacou por seu desempenho. Formou-se em artilharia e concluiu, em 1881, o prestigiado Curso de Estado-Maior de Primeira Classe.

Sua carreira militar foi marcada por posições importantes: foi professor do Colégio Militar do Rio de Janeiro, preparador e conservador do Gabinete de Mineralogia e Geologia, além de auxiliar de ensino. Participou ativamente dos movimentos abolicionista e republicano que culminaram na Proclamação da República em 1889, quando marchou ao lado de Benjamin Constant. Nomeado secretário do Ministro da Guerra, contribuiu para a reforma do ensino militar e para a organização do Clube Militar, espaço que reunia os primeiros republicanos e abolicionistas.

Serzedello Corrêa foi eleito deputado constituinte em 1890 e nomeado governador do Paraná. No cargo, destacou-se pela construção do Palácio do Governo e da Catedral de Curitiba, obras que embelezaram e estruturaram o Estado. Durante seu governo, presidiu a organização republicana paranaense, reforçando sua influência política.

Em 1892, passou a ocupar os ministérios das Relações Exteriores, Agricultura e Fazenda, assumindo ainda interinamente as pastas da Justiça, do Interior e da Instrução Pública. Como Ministro da Fazenda, enfrentou uma grave crise bancária e promoveu a fusão do antigo Banco do Brasil com o Banco da República, fortalecendo o sistema financeiro nacional. Na mesma gestão, participou da estruturação do recém-criado Tribunal de Contas da União, contribuindo para sua organização e funcionamento inicial. Deixou reservas significativas em Londres, que permitiram ao presidente Floriano Peixoto pagar compromissos externos e evitar intervenção estrangeira durante momentos críticos como a Revolta da Armada, movimento liderado por setores da Marinha contrários ao governo.

Renunciou ao ministério em 1893 e desligou-se do Exército no mesmo ano. Em sua trajetória parlamentar, foi eleito deputado federal por diversas vezes, representando o Distrito Federal, o Pará e o Mato Grosso. Durante essas legislaturas, destacou-se como relator do orçamento da República, função que desempenhou com rigor técnico e comprometimento.

Entre 1909 e 1910, Serzedello Corrêa foi prefeito do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, onde promoveu a expansão da rede pública de ensino e melhorou o saneamento urbano, contribuindo para a modernização da capital da República.

No campo econômico, presidiu a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (SAIN) a partir de 1902 e foi o principal idealizador e fundador do Centro Industrial do Brasil (CIB), em 1904, associação que congregava as principais indústrias do país e defendia o protecionismo e o desenvolvimento econômico nacional. Durante seu mandato no CIB, lutou pela proteção da indústria e da agricultura brasileiras, buscando equilíbrio entre esses setores.

Além da política e da economia, teve atuação destacada na cultura, sendo fundador do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso e da Academia Paraense de Letras. Escreveu diversos discursos, artigos e livros sobre economia, finanças públicas e questões constitucionais, refletindo seu profundo conhecimento e compromisso com o progresso do Brasil. Entre suas obras mais importantes estão O Rio Acre (1899), O Problema Econômico do Brasil (1903), Discurso sobre a Questão dos Impostos Interestaduais (1903), A Revisão Constitucional (1904), Discurso sobre a Caixa de Conversão (1906), Elementos de Economia Política (1919) e Páginas do Passado (1919), este último com reflexões políticas e memórias de sua convivência com Floriano Peixoto.

Em sua homenagem, o nome de Inocêncio Serzedello Corrêa foi dado a diversas vias e instituições públicas, entre as quais se destacam: a Praça Serzedelo Correia, localizada em Copacabana, Rio de Janeiro; a Avenida Serzedelo Corrêa, nos bairros Batista Campos e Nazaré, em Belém do Pará; a Rua Prefeito Serzedello Corrêa, no bairro Andaraí, Rio de Janeiro; e o Museu Serzedello Corrêa, situado na sede do Tribunal de Contas do Estado do Pará, onde estão preservados seus pertences e sua cripta.

Além disso, o Tribunal de Contas da União criou o Instituto Serzedello Corrêa, entidade dedicada à educação corporativa dos servidores, em reconhecimento à sua relevante contribuição para a criação e organização do próprio Tribunal. O instituto atua na formação, capacitação e desenvolvimento técnico dos servidores públicos, buscando aprimorar a gestão e o controle dos recursos públicos no Brasil.

Casou-se em 1906 com Armandina Eulina Savart de Saint-Brisson, com quem teve dois filhos, Armando e Jayme. Faleceu no Rio de Janeiro, em 5 de junho de 1932.

Fontes:

CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO CPDOC DA FGV. Verbete de Inocêncio Serzedello Corrêa. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/CORREIA,%20Serzedelo.pdf. Acesso em: 30 jun. 2025.

GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ. Serzedello Corrêa. Edição fac-símile do livro Polyanthéa, de 1896. Belém: CEJUP, 1989. Disponível em: https://www.tcepa.tc.br/museu-serzedello-correa/livros. Acesso em: 01 jul. 2025.

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O centro industrial do Rio de Janeiro e sua importante participação na economia nacional (1827–1977). Rio de Janeiro: Editora Carone, [s.d.].

CORREIO DO PARANÁ, Curitiba, ed. de 06 jun. 1932; Os Discursos De Inocêncio Serzedello Corrêa No Congresso Constituinte De 1890-1891 E A Sua Defesa Por Uma Reforma Constitucional Na Primeira República | Even3 Publicações acessado em 25/08/2025