Eliezer Batista
Empresário que foi um dos responsáveis por transformar a Vale do Rio Doce em uma das maiores empresas de minério do planeta. Na Firjan, fez parte do Conselho Coordenador das Ações Federais no Rio de Janeiro e do Conselho de Eméritos. Faleceu no dia 18 de junho de 2018, aos 94 anos.
Parece até uma profecia, Eliezer Batista da Silva nasceu no Vale do Rio Doce, região no leste de Minas Gerais, que permaneceu intrinsecamente ligada à sua vida. Seu nascimento se deu na pequena cidade de Nova Era, em Minas Gerais, no dia 04 de maio de 1924. Seu pai, José Batista da Silva tinha a mesma profissão de seu avô, era seleiro, uma espécie de artesão que fabrica arreios para animais. Sua mãe se chamava Maria Batista da Silva.
Fez o ensino primário em sua cidade natal, o secundário em Ouro Preto e em São João Del Rei. Mudou-se para Curitiba onde formou-se pela Escola de Engenharia da Universidade do Paraná em 1948. Na cidade, foi também um atleta conhecido. Disputou campeonatos sul-americanos de polo aquático e competiu no salto de plataforma de dez metros. Dizia, brincando, ter fundado a Juventude Hippie de Curitiba, pois se vestia exatamente como os hippies fariam décadas mais tarde. Em 1949, ingressou como engenheiro no Departamento de Construções da Estrada de Ferro Vitória-Minas, da Companhia Mineradora Vale do Rio Doce.
- Como eu entrei na Vale [empresa Vale do Rio Doce]? Foi quando eu fui visitar a minha família em Nova Era. Nós tivemos contato com o pessoal da construção e tinha muitos americanos lá. Naquela ocasião, já em Governador Valadares, tinha a sede da Morrison-Knudsen [empresa americana de engenharia civil e construção]. Então eu fiz contato com aqueles americanos e me entusiasmei com aquilo. Com pessoas com uma visão completamente nova de tudo, para primeiros trabalhos com equipamento pesado no Brasil, para construção pesada, com tratores, escavadeiras. No Brasil não existia nada daquilo. Então, quando eu vi aquilo tudo, eu falei: “Aqui é, eu vou ficar aqui! Aqui me interessa”. E daí foi evoluindo, mas foi a influência do trabalho dos americanos na parte de Engenharia de Construção, tanto que eu comecei na Construção. – contou em depoimento ao Museu da Pessoa.
Eliezer Batista foi o primeiro empregado de carreira da mineradora a se tornar presidente da Vale do Rio Doce. E fez isso por duas vezes. Na primeira, ente 1961 e 1964, criou o modelo mina-ferrovia-porto, integrando os diversos modais e idealizou o Porto de Tubarão, no Espírito Santo, que permitiu transportar, em navios de grande porte, o minério de ferro produzido em Itabira (MG) até o Japão, o maior consumidor da commodity na época, a preços competitivos. Até hoje a Vale mantém o modelo mina-ferrovia-porto, fornecendo minério para China, maior consumidor do mineral da atualidade.
No período de 1962 até junho 1963, Eliezer Batista também foi ministro das Minas e Energia. Em 1964, deixou a presidência da Vale devido a deposição do presidente João Goulart. Neste mesmo ano, fundou e presidiu a Mineração Brasileira Reunidas (MBR), do grupo Caemi, onde ficou até 1968. Volta a comandar a Vale do Rio Doce entre os anos de 1979 e 1986, quando implementou o Projeto Ferro Carajás, um dos primeiros empreendimentos globais a considerar questões ambientais e socioeconômicas.
Sua atuação e visão foram responsáveis por transformar a Vale do Rio Doce de uma pequena empresa estatal produtora de minério de ferro em uma das maiores do mundo no setor de mineração.
Foi responsável por uma aproximação com empresas do Japão, que resultou em importantes investimentos em nosso país. Criou o Wise Men Group Brasil-Japão para estreitar relacionamento empresarial entre os dois países. Em 1985, recebeu o título de Grã-Cruz da Ordem do Tesouro Sagrado, a mais alta condecoração do governo japonês. Apenas cinco pessoas haviam recebido esta honraria até aquele momento.
Na Vale, Eliezer também foi incentivador do cultivo de eucalipto ao longo da Estrada de Ferro Vitória-Minas, pensando no transporte de madeira como carga para a ferrovia. Fez parte da criação, em 1965, do Código Florestal. Isso proporcionou um grande salto à indústria de papel e celulose no Brasil.
- Criamos uma companhia chamada Aracruz Florestal, de plantio de eucalipto. Porque a primeira ideia era a de exportar tipos, como, aliás, muita gente faz hoje em vários países, inclusive o próprio Brasil. Mas aí se decidiu fazer celulose. Então, foi fundada a Aracruz Celulose, que é o que você conhece hoje. Durante esse período em que eu estava na Vale do Rio Doce, nós começamos a fazer parques florestais. Mais tarde, compramos a floresta de Linhares, que era uma floresta nativa, na época em que o estado do Espírito Santo estava sendo devastado. Nós compramos aquilo para preservar. A desculpa para a diretoria da Vale aceitar a aquisição foi a que se tratava de uma fazenda de dormentes. Era a única maneira de aceitarem um investimento como aquele em uma época na qual todos estavam queimando floresta para fazer pasto. Aliás, como até hoje fazem na Amazônia. Isso em 1954, 55, 56, por aí. A reserva foi comprada, não se tirou nenhum pau para fazer dormentes. Foram criadas lá pesquisas, além de um herbário para estudar as madeiras locais. – explicou em entrevista ao Portal Eco.
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Em 1992, foi secretário de Assuntos Estratégicos, no governo Collor. Após privatização da Vale do Rio Doce, em 1997, passou ser consultor do Presidente Fernando Henrique para a área de Infraestrutura.
Em sua trajetória também atuou como diretor da Itabira Eisenerz GmbH, presidente da Rio Doce Internacional e da Rio Doce Europa. Esteve presente também em projetos de expansão do agronegócio no Centro-Oeste, da criação do gasoduto Brasil-Bolívia e da conexão de energia elétrica entre a Venezuela e Boa Vista.
Em 1995, Eliezer assumiu uma cadeira na Firjan no Conselho Coordenador das Ações Federais no Rio de Janeiro, ligado à presidência da República e que ficava sediado na Federação, na Cinelândia. Foi a partir daí que teve início um período de intensa colaboração com a Firjan. No 6º andar, a sala em que trabalhava recebeu o seu nome. Em 2002, foi condecorado com a Medalha do Mérito Industrial do Rio de Janeiro. Em 2016, passou a integrar o Conselho de Eméritos da Firjan.
Eliezer Batista foi casado com a alemã Juta Fuhrken, com quem teve sete filhos, entre eles, o empresário Eike Batista, que chegou a ser o 8º homem mais rico do mundo. Faleceu no dia 18 de junho de 2018, aos 94 anos.
Fontes:
Projeto Memórias, do Museu da Pessoa, entrevista com Eliezer Batista, realizada no dia 28 de março de 2000, acessada em 26 de fevereiro de 2025, disponível em https://museudapessoa.org/historia-de-vida/construtores-de-catedral/; Projeto Memórias, do Museu da Pessoa, entrevista com Eliezer Batista, realizada no dia 02 de dezembro de 200, disponível, acessada em 25 de fevereiro de 2025, disponível em https://museudapessoa.org/historia-de-vida/empresa-de-padr-o-mundial/; Notícia ”Morre Eliezer Batista, ex-ministro e ex-presidente da Vale, aos 94 anos”, acessada dia 26 de fevereiro de 2025, disponível em https://oglobo.globo.com/economia/morre-eliezer-batista-ex-ministro-ex-presidente-da-vale-aos-94-anos-22796433; Matéria “Eliezer Batista, o construtor do Brasil”, acessada em 26 de fevereiro de 2025, disponível em https://epocanegocios.globo.com/conteudo-de-marca/vale/noticia/2024/06/eliezer-batista-o-construtor-do-brasil.ghtml; Nota de Falecimento da Firjan, acessada em 26 de fevereiro de 2025, https://www.firjan.com.br/noticias/nota-do-sistema-firjan-sobre-o-falecimento-de-eliezer-batista-1.htm; Morre o ex-presidente da Vale e ex-ministro Eliezer Batista, pai de Eike, acessada em 26 de fevereiro de 2025, disponível em https://www.congressoemfoco.com.br/noticia/39525/morre-o-ex-presidente-da-vale-e-ex-ministro-eliezer-batista-pai-de-eike; Entrevista com Eliezer Batista, acessada em 27 de fevereiro de 2025, disponível em https://oeco.org.br/reportagens/10973-oeco_24911/; Artigo de Evandro Milet “Eliezer Batista, o pai do Espírito Santo moderno”, acessado em 27 de fevereiro de 2025, disponível em https://es360.com.br/coluna-inovacao/eliezer-batista-o-pai-do-espirito-santo-moderno.