Carlos Erane de Aguiar
Vice-presidente da Firjan, é voz ativa nas discussões sobre segurança. O empresário que preside o Conselho Empresarial de Defesa e Segurança da instituição participou da Campanha Contra o Roubo de Cargas no estado e da criação do Cluster Tecnológico Naval.
“A indústria de defesa, e particularmente a indústria não letal, me deu essa lição. Não adianta construir escola, não adianta construir hospitais, não adianta fazer condomínios industriais sem segurança.”
Carlos Erane, em entrevista ao Memória da Indústria
Nascido em uma fazenda na cidade de Itaocara, no interior do estado do Rio de Janeiro, no dia 7 de fevereiro de 1940, Carlos Erane de Aguiar é filho dos produtores rurais Antenor Maurício de Aguiar e Rita Pereira de Aguiar. Em entrevista ao Memória da Indústria, o empresário contou que retirou de sua infância no campo um dos grandes aprendizados: o trabalho, a união familiar e o respeito ao meio ambiente são determinantes para o sucesso.
Na adolescência, mudou-se para o Rio, para o bairro de Madureira, e estudou no Colégio Souza Marques, em Cascadura. Lá, teve sua primeira experiência associativa. Organizou e presidiu o grêmio da escola, momento que despertou seu interesse pela política. Em 1960, virou assessor dos Comitês Estudantis nas vitoriosas campanhas de Jânio Quadros à presidência, e de Carlos Lacerda, ao governo do Estado da Guanabara, onde trabalhou como assessor estudantil na Secretaria de Segurança.
- Minha vida foi, sem querer, me levando pelo destino para a segurança pública e para a defesa, de um modo geral. Isso atrasou muito a minha entrada para a universidade, porque fiquei envolvido no governo do Carlos Lacerda. – contou Erane.
Aos 28 anos, já casado, Carlos Erane iniciou sua formação universitária em Direito na Universidade Federal Fluminense (UFF). Ao mesmo tempo, trabalhava no mercado de capitais e possuía uma empresa imobiliária, mas não estava feliz. Conta que tinha dificuldades em cobrar aluguéis atrasados de inquilinos que haviam perdido seus empregos.
O início da atuação na área de defesa veio por acaso. Caminhava pela Avenida Rio Branco, no Centro do Rio de Janeiro, quando encontrou um amigo do Colégio Souza Marques que o convidou para trabalhar na recuperação da Química Tupan, tradicional fabricante de material bélico e pirotécnicos dos idos dos anos de 1960.
- Quando cheguei lá, imediatamente me apaixonei pela empresa, porque ela tinha um conceito muito incipiente de produtos não letais. Naquela época não existia esse nome, mas tinha esse conceito. Ela fabricava produtos não letais, mas fabricava também produtos letais.(...). Achei o conceito fantástico: fabricar materiais, bombas de efeito moral, que não causavam letalidade nem consequências permanentes no indivíduo. Comecei a entender bem aquilo, e assim foi a minha introdução no mundo da defesa e da segurança pública.
A Condor S.A. Indústria Química surge em 1985 a partir de uma cisão da Química Tupan. Carlos Erane conta que o início foi desafiador. Foi necessário levantar uma empresa “do zero” e mostrar a necessidade de um tipo de produto, as armas não letais, a um mercado que desconhecia esta opção.
- Falar de não letal naquela época para as Forças Armadas era uma coisa inusitada. Ninguém entendia. Então, nós começamos a sentir esse peso da ignorância, no bom sentido, de ignorar um setor tão importante que é de preservar a vida humana -, ressalta.
A virada de chave veio em 1990, quando a ONU se reuniu em Havana no 8º Congresso das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes, realizado em Cuba, de 27 de agosto a 7 de setembro, e lançou uma resolução que consagrou o que a Condor sempre defendeu: o uso proporcional da força. Ou seja, a arma letal só poderia ser usada em última circunstância, após terem sido esgotadas todas as possibilidades.
Quem vai a Condor conhece outro lado de Carlos Erane: um apaixonado pela natureza. A empresa fica no sopé da Reserva Biológica do Tinguá e, segundo ele, “é um verdadeiro jardim. Quem visita o lugar não imagina que existe ali uma indústria de defesa.”
O empresário, que já foi membro do Conselho da Reserva Biológica do Tinguá, contou com entusiasmo ao Memória da Indústria sobre os cuidados e a proteção ao meio ambiente, além da sua paixão por pássaros. Ele é criador conservacionista e tem autorização para criá-los. Em uma visita ao Chile, fez questão de observar o condor, a maior ave em envergadura do mundo e que dá nome à empresa.
Em 25 de março de 2011, a Condor recebeu o Prêmio Faz a Diferença 2010 do Jornal O Globo, na categoria Economia/Desenvolvimento do Rio. Em 2013, Carlos Erane foi homenageado com a Medalha do Mérito Industrial do Rio de Janeiro. No ano de 2019, assumiu a presidência do Sindicato Nacional das Indústrias de Materiais de Defesa – SIMDE, localizada em São Paulo, e o cargo de diretor presidente do Departamento de Defesa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), o Condefesa, que inspirou no país inteiro a criação de conselhos de defesa e segurança nas federações da indústria. Hoje o SIMDE está filiado a oito federações da indústria, incluindo a Firjan.
Em 2024 a Condor se associou ao Grupo Edge, estatal do setor de defesa dos Emirados Árabes, e Carlos Erane assumiu o Conselho de Administração, mantendo a família no controle da empresa. Erane é pai de Carlos Frederico Queiroz de Aguiar, CEO da Condor, de Maria Christina Queiroz de Aguiar e de Camila Queiroz de Aguiar.
SEGURANÇA EM PAUTA NA FIRJAN
A entrada de Carlos Erane na Firjan aconteceu após uma visita da gerente da Representação Regional Baixada I, área que abrange a cidade de Nova Iguaçu, onde está situada a Condor. Na conversa, o empresário foi apresentado à estrutura da Federação.
- Fui convidado, participei das reuniões, entrei como conselheiro, e lá me deparei com homens que fundaram a regional da FIRJAN.
A partir daí, em 2001, passou a integrar Conselho Regional Firjan Nova Iguaçu e Região. Em 2009, assumiu a presidência deste Conselho. Nele, colocou a segurança um dos pontos de atenção da Regional e da Firjan como um todo.
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“A questão da segurança [na Baixada Fluminense] veio como um instrumento para aliviar o sofrimento dos condomínios industriais. (...). Então, a gente entrou nessa de cabeça. Isso foi um trabalho muito grande.”
Carlos Erane, em entrevista ao Memória da Indústria
No processo de implementação das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs), no início da década de 2010, os ideais de armas não letais defendidos pelo empresário foram difundidos. Carlos Erane destacou a importância do Sesi Cidadania, inclusive dos projetos como o Galo da Madrugada e o Corujão, que levaram ações de educação, cultura, esporte, lazer e cursos de qualificação profissional para as comunidades.
- As UPPs foram um dos motivos do crescimento da nossa empresa. Ali, não deveria ser usado de maneira nenhuma os materiais letais, (...). Então floresceu muito a questão dos materiais não letais.
Em 2017, passou a integrar o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável da Presidência da República, conhecido como Conselhão, instância criada para dialogar com a sociedade civil. No mesmo ano, Erane participou do desenvolvimento da Carta do Rio de Janeiro, documento que lançou o Movimento Nacional Contra o Roubo de Cargas, liderado pela FIRJAN. Em 2018, a Sondagem Industrial Especial sobre Segurança, estudo feito pela Federação em parceria com a Confederação Nacional da Indústria, mostrou que quase metade das indústrias fluminenses (44,5%) foram vítimas de roubo, furto ou vandalismo, no ano anterior, levando a um aumento nos custos para os empresários e consequentemente para o produto final.
Outro momento importante do qual Carlos Erane fez parte foi a constituição do Cluster Tecnológico Naval, em 13 de novembro de 2019. O Cluster foi pensado para aproveitar o potencial do Estado no desenvolvimento da chamada economia do mar. O Rio de Janeiro possui uma área litorânea de 636 quilômetros de extensão, 8,6% do total brasileiro. Segundo estimativas, este setor, em níveis globais, deve gerar negócios de quase US$3 trilhões até 2030. A Condor, ao lado de outras três empresas, foi uma das fundadoras do Cluster, que conta com mais de cem instituições.
- O Cluster é uma entidade de várias empresas que se juntam para trabalhar aquilo que é a vocação do Estado do Rio de Janeiro: a indústria da pesca, a indústria naval, o turismo, e uma série de coisas. A construção aqui dos submarinos, que é extraordinária, que muita gente não fala, mas é um êxito fantástico a criação de submarinos voltados para a defesa.
A partir de diversos fóruns realizados sobre segurança na Firjan, em 13 de fevereiro de 2020, foi criado o Conselho Empresarial de Defesa e Segurança. Presidido por Carlos Erane, tem como objetivos gerais estudar, discutir e propor estratégias e ações que proporcionem o aumento da participação da indústria fluminense no mercado nacional da cadeia de Defesa e Segurança, além de fortalecer a segurança pública no estado do Rio de Janeiro.
- Foi aí [a partir do Conselho Empresarial de Defesa e Segurança Pública] que houve essa aproximação e que proliferou em todas as federações um trabalho conjunto entre defesa, segurança. Aqui na FIRJAN, por exemplo, temos um trabalho extraordinário com as Forças Armadas, com os produtos que são muito caros e que o Sistema S (Conjunto de nove entidades administradas por federações ou confederações patronais e voltadas para treinamento profissional, assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica) tem ajudado no desenvolvimento, porque senão teríamos que importar esses produtos. Nossa função sempre foi defender a indústria nacional, não só a indústria de defesa e segurança, mas a indústria de modo geral, porque elas se conjugam e dependem umas das outras.
Entre 2020 e 2024, foi 2º Vice-presidente da Diretoria Plena da Firjan. Em 2024, Carlos Erane foi eleito 1º vice-presidente da Firjan na chapa liderada por Luiz Césio Caetano.
“Muitas pessoas antigamente achavam que segurança pública era o problema da polícia. A segurança pública é problema de todos nós. Nós temos o dever de estar juntos, porque senão vamos perder a nossa identidade. O aglomeramento das cidades, os adensamentos, as questões sociais, nós temos que estar juntos e atuar.”
Carlos Erane, em entrevista ao Memória da Indústria
Fontes:
Entrevista de Carlos Erane de Aguiar ao Projeto Memória da Indústria realizada em 16 de janeiro de 2024; Notícia do site do Simed “Diretor-Presidente do SIMDE é eleito 1º Vice-Presidente da FIRJAN”, disponível em https://www.simde.org.br/post/diretor-presidente-do-simde-%C3%A9-eleito-1%C2%BA-vice-presidente-da-firjan, acessada em 28/10/2024; Estudo “O impacto econômico do roubo de cargas no estado do Rio de Janeiro”, disponível em https://www.firjan.com.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=2C908A8A6098BB8B01611EDDD74A3CD7#:~:text=Nesse%20sentindo%2C%20em%202017%20o,da%20sociedade%2C%20no%20combate%20ao, acessado em 29/10/2024; Sondagem Industrial - Especial Segurança, disponível em https://observatorio-hmg.firjan.com.br/inteligencia-competitiva/sondagem-industrial-especial-seguranca, acessado em 29/10/2024; Resultado do Prêmio Faz a Diferença 2010, disponível em https://memoria.oglobo.globo.com/institucional/promocoes/precircmio-faz-diferenccedila-2010-8ordf-ediccedilatildeo-13343002, acessado em 29/10/2024; História do Cluster Tecnológico Naval, disponível em https://www.clusternaval.org.br/breve-historia, acessado em 29/10/2024; Notícia “Cluster Tecnológico: economia do mar mobiliza poder público e indústria”, disponível em https://www.firjan.com.br/noticias/cluster-tecnologico-naval-rj-celebra-dois-anos-em-solenidade-na-firjan.htm, acessada em 29/10/2024; Notícia Sistema Firjan leva educação e qualificação para comunidades pacificadas, disponível em https://extra.globo.com/economia-e-financas/emprego/sistema-firjan-leva-educacao-qualificacao-para-comunidades-pacificadas-2591045.html, acessada em 29/10/2024; O que é Sistema S, disponível em https://www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao/estilos/sistema-s, acessado em 29/10/2024; Likedin Carlos Erane de Aguiar, disponível em https://www.linkedin.com/in/carlos-erane-de-aguiar-42b48a1b2/?original_referer=https%3A%2F%2Fwww%2Egoogle%2Ecom%2F&originalSubdomain=br, acessado em 29/10/2024; Livro “O Valor da Vida – uma experiência em tecnologias não letais no Brasil”, de Carlos Erane de Aguiar, Letras e Versos Gráfica e Editora, 2019; História da Condor, disponível em https://www.condornaoletal.com.br/nossa-historia/, acessada em 29/10/2024; Conselho Empresarial de Defesa e Segurança Pública, disponível em https://www.firjan.com.br/firjan/empresas/competitividade-empresarial/conselhos-empresariais/conselho-empresarial-de-defesa-e-seguranca-publica.htm. Acessado em 29/10/2024, Edital de Chapas Registradas – Eleições Sindicais Firjan – Quadriênio 2024/2028, disponível em https://www.firjan.com.br/data/files/3C/F1/08/DC/E37E0910682D1D09D8284EA8/edital-firjan.pdf, acessado em 01/11/2024, Cluster Tecnológico Naval-RJ atinge a marca de 100+ Empresas, disponível em https://www.clusternaval.org.br/cluster-tecnologico-naval-rj-atinge-a-marca-de-100-empresas/, acessado em 01/11/2024. Carlos Erane integra Conselho de Desenvolvimento Econômico da Presidência da República https://www.infodefensa.com/texto-diario/mostrar/3077294/zlib/inffast, acessado em 12/02/2025.