Carlos Augusto Di Giorgio Sobrinho
O empresário do setor gráfico iniciou sua atuação na Firjan em 1997. Participou da criação do Projeto da Fábrica do Livro, liderou importantes negociações e as discussões sobre a definição da cobrança de ICMS e o ISS na área. Por suas contribuições, em 2021, o Centro de Referência em Artes Gráficas da Firjan passou a se chamar Complexo Firjan SENAI SESI Carlos Augusto Di Giorgio Sobrinho.Antigamente diziam que o setor gráfico iria acabar. Ah, o papel vai acabar. Eu costumo dizer o seguinte: o dia que o papel acabar, pode ter certeza que vai ser anúncio das primeiras folhas de todos os jornais do mundo, porque o setor gráfico não acaba.
Carlos Augusto Di Giorgio Sobrinho em entrevista ao Memória da Indústria
A paixão pelo papel é de família. Carioca, nascido em 16 de fevereiro de 1948, Carlos Augusto Di Giorgio Sobrinho viu desde cedo seus tios, Carlos Augusto Di Giorgio e Luiz Augusto Di Giorgio e Arthur Augusto Di Giorgio, e seu pai, o jornalista Jayme Di Giorgio, se dedicando à indústria gráfica e hoje, acompanha seus filhos Vicente de Paulo Di Giorgio e Bianca Di Giorgio mantendo a tradição nos negócios. Ele também é pai de Carlos Otavio Di Giorgio (in memoriam) e Carlos Augusto Andrade Di Giorgio, que atua no setor de gastronomia.
- Eu fui criado com o cheiro do papel. Era garoto, meu pai nunca foi de nos deixar, mesmo na época de férias, em casa, sem fazer nada. Ele nos conduzia para a gráfica, e ali nós começamos a pegar amor pelo setor. E ali comecei a aprender, não só na área de produção, mas como também na área de cálculo. (...) Então, daí para frente, nós sempre nos dedicamos a isso. – disse em entrevista exclusiva para o Projeto Memória da Indústria.
Di Giorgio estudou no Colégio Metropolitano, no Colégio Dois de Dezembro, na Fundação Getúlio Vargas, e na Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas, onde se formou em Direito em 1973. Chegou a advogar e foi assistente de Jair Leite Pereira, um dos maiores criminalistas brasileiros, mas sua vocação sempre foi a gráfica.
O primeiro negócio da família foi a gráfica Irmãos Di Giorgio. Em 1969, juntamente com seu pai e seu irmão José Augusto Di Giorgio, assume a empresa e cria a J. Di Giorgio. Desde então, viu a indústria crescer, passar por crises, inovar e se transformar por diversas vezes.
Ninguém pode ir contra a tecnologia.
Carlos Augusto Di Giorgio Sobrinho em entrevista para o Memória da Indústria.
- Antigamente, as máquinas eram todas mecânicas e manuais, nós chamamos de prelo. Em uma máquina dessas, a tiragem era 3 mil folhas por dia, em oito horas de trabalho. (..,) Depois vieram as máquinas eletrônicas, com uma tecnologia fora de série. Hoje, uma impressora, quatro cores imprime uma média de 15 mil folhas por hora, frente e verso. Depois, veio a tecnologia da impressão digital complementar, facilitar e abrir portas para vários trabalhos. Inclusive deu oportunidade àqueles autores que não poderiam contratar uma gráfica para fazer um livro.
DEFESA E MODERNIZAÇÃO DO SETOR GRÁFICO
A participação de Di Giorgio no Sindicato das Indústrias Gráficas do Município do Rio de Janeiro (Sigraf) tem início em 1986 com o convite de Werner Klatt, um dos mais importantes empresários gráficos do Rio de Janeiro e presidente da gráfica Laerka. Em 1997, ele assume a presidência do Sigraf, e ingressa no Conselho de Representantes da Firjan. Di Giorgio conta que foi um dos responsáveis por levar o Sigraf para a Federação, durante a presidência de Arthur João Donato.
- Eu fui um dos principais motivadores para que nós [Sigraf] entrássemos na Firjan. A Firjan nos oferece toda uma área jurídica, financeira, econômica, para que possamos oferecer aos nossos associados. E, com isso, expandir o nosso quadro social oferecendo também esse trabalho que a Firjan já nos oferecia. Com isso, o crescimento do Sigraf foi muito grande.
Di Giorgio também liderou a criação, em 1999, da Fábrica do Livro da Firjan SENAI. O projeto inovador que democratizou o acesso de escritores à publicação de livros, surgiu a partir de uma parceria com a empresa Xerox. A iniciativa possibilitava a impressão de pequenas tiragens e sob demanda, antecipando em mais de uma década um movimento de mercado que se tornou comum a partir das impressões digitais. A Fábrica de Livros ficava no Centro de Referência em Artes Gráficas da Firjan SENAI SESI na Unidade Maracanã.
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A Firjan nos deu essa oportunidade de colocarmos a Fábrica de Livro dentro da escola Firjan SENAI SESI Maracanã. Ali, você mostrava a nova tecnologia para os alunos. Eles estavam aprendendo também a impressão digital, a tecnologia digital. E isso também deu oportunidade aos pequenos autores. Eu cansei de ver gente chorando saindo com seu livro impresso de dentro da escola.
Carlos Augusto Di Giorgio Sobrinho em entrevista para o Memória da Indústria.
Em 2004, como presidente do Sigraf, Di Giorgio foi homenageado com a Medalha do Mérito Industrial do Rio de Janeiro, honraria concedida anualmente pela Firjan a personalidades e empresários que se destacam por sua atuação nos cenários político, econômico e social. O empresário também exerceu a presidência da regional do Rio de Janeiro da Associação Brasileira de Indústrias Gráficas (Abigraf) e foi vice-presidente da Abigraf nacional.
Como representante da Firjan, Di Giorgio participou de diversas missões e eventos internacionais promovidos pela instituição que apresentaram novidades tecnológicas para a indústria gráfica e proporcionaram trocas de experiências importantes para o desenvolvimento do setor. A primeira vez que integrou uma missão pela Firjan foi em 2004, e esteve presente na Feira Drupa, maior evento do segmento no mundo. Lá, visitaram uma gráfica de destaque em Dusseldorf onde conheceram seus modernos processos de produção.
Participou também de campanhas e projetos de disseminação de normas de segurança no setor gráfico, trabalhando na conscientização das empresas e colaboradores e ressaltando a importância da tecnologia para deixar os ambientes ainda mais seguros.
- A Firjan oferece cursos e vai até as empresas vendo as necessidades de segurança e mostrando qual deve ser usada. Hoje, nós já fazemos esse trabalho de [prevenção de] acidentes no setor gráfico. Graças a Deus, em 2023, [o número de acidentes] é zero. Justamente também por questão da tecnologia. Temos equipamentos nos quais até a mudança de chapa é automática.
Eu já exerci vários cargos na Firjan, diretor secretário, já fui vice-presidente, e a Firjan me ensinou muito, me ensinou a ser empresário. Essa é a maior escola. Se existe uma faculdade para empresário, essa faculdade é essa casa [a Firjan]. Ela te mostra tudo aquilo que você deve ser como empresário. A você amar a indústria. A mostrar as possibilidades que a indústria pode fazer pela população. E nós temos o dever de continuar a passar esses ensinamentos.
Carlos Augusto Di Giorgio Sobrinho em entrevista ao Memória da Indústria
Em defesa da indústria gráfica do Rio de Janeiro, costurou um acordo com a Suzano que permitiu que, mesmo com a saída das fábricas de produção de papel do estado, não faltasse a matéria prima na região. Na ocasião, os clientes já estavam buscando opções em outros estados por conta da velocidade da entrega.
- Todos os fabricantes de papel que tínhamos saíram do Rio de Janeiro. Pela dificuldade que o Rio estava passando, inclusive pela questão dos impostos. E ficamos sem ter fornecedor de papel. Então, para fazer um determinado trabalho, era preciso comprar o papel, esperar dois, três dias, porque a fábrica era de São Paulo, a distribuidora era de São Paulo.
Di Giorgio apresentou para representantes da Suzano o problema e como solução a empresa, por sugestão da Firjan, colocou depósitos de papel no estado de acordo com a necessidade local. A ação impediu uma perda significativa de negócios para o setor.
Outra ação importante foi em relação ao conflito tributário na definição da cobrança entre ICMS e o ISS. A interpretação na época era de que vários produtos eram direcionados ao consumidor final. Assim, o imposto era maior e onerava a indústria gráfica.
- Por exemplo, o receituário médico, que tem o nome do médico. É ele quem vai consumir, aquele papel é dele, só ele pode usar. Então, isso é consumidor final, a gente coloca personalizado, a gente coloca no ISS. O resto, ainda mais embalagem, livro, não pode ser ISS, tem que ser ICMS. Nós trouxemos os dois Secretários de Fazenda (estadual e municipal) e eles chegaram a esse denominador comum.
Participou da criação do Prêmio Werner Klatt, que destaca produtos gráficos em vários segmentos, de livros a embalagens, estimulando a constante melhoria nos serviços. O prêmio leva o nome do importante empresário que se destacou por ajudar a desenvolver o setor gráfico no estado.
Em agosto de 2021, Di Giorgio recebeu “uma das grandes homenagens de sua vida”, como afirmou em entrevista. O Centro de Referência em Artes Gráficas da Firjan, na Unidade Maracanã, passou a se chamar Complexo Firjan SENAI SESI Carlos Augusto Di Giorgio Sobrinho.
- O SENAI é uma escola que eu me dediquei muito. E levei o doutor Eduardo [Eugênio Gouvea Vieira, então presidente da Firjan], levei alguns diretores lá na escola. E a escola tinha uns equipamentos muito antigos, todos eles praticamente mecânicos, não tinha nada eletrônico. E eu fui andando com o Eduardo e ele disse: “ô, Di Giorgio, essa é a nossa escola?” E eu falei: “essa é a nossa escola, nós precisamos modernizar isso aqui.” Ele falou: “faz o seguinte, amanhã vai lá na sede que nós vamos conversar”. Daí para a frente, modernizamos a escola que hoje é uma das melhores que nós temos aqui. E foi a primeira escola gráfica do Brasil.
O primeiro documento de todos nós é a certidão de nascimento. E ela é feita de papel. E o último documento que a gente tem quando deixa essa vida? De óbito. É em papel. Quer dizer, você usa o papel quando nasce e usa o papel quando você vai para o mundo de Deus.
Carlos Augusto Di Giorgio Sobrinho em entrevista ao Memória da Indústria
FONTES:
Entrevista com Carlos Augusto Di Giorgio Sobrinho ao Projeto Memória da Indústria realizada no dia 14 de novembro de 2023; Site do da Gráfica J. Di Giorgio disponível em https://digiorgioimpressores.com.br/, acessado em 21/10/2024; Notícia “Presidente do Sigraf visita Centro de Referência Firjan SENAI SESI Maracanã que agora leva seu nome” disponível em https://www.firjan.com.br/noticias/presidente-do-sigraf-visita-centro-de-referencia-firjan-senai-sesi-maracana-que-agora-leva-seu-nome-1.htm, acessada em 21/10/2024. Notícia “Carlos Augusto Di Giorgio no comando da Abigraf Nacional” disponível em https://abigraf.org.br/em_acao/carlos-augusto-di-giorgio-no-comando-da-abigraf-nacional/.