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Arthur João Donato

Advogado, empresário do setor de construção naval, presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Naval (Sinaval) por três mandatos, presidente da Firjan responsável pela construção da sede da entidade na Cinelândia, que hoje leva o seu nome. Morreu no dia 21 de dezembro de 2002.
Publicado em 18/09/2025 - Atualizado em 17/10/2025 12:45
Arthur João Donato. Crédito: Acervo Firjan
Arthur João Donato. Crédito: Acervo Firjan

Filho de Humberto Donato e de Hermínia Durão Donato, João Arthur Donato nasceu no Rio de Janeiro no dia 16 de agosto de 1922. Com ambos, o menino e seus cinco irmãos viveram em duas casas na infância e juventude: a primeira na Tijuca, próxima ao estabelecimento industrial de seu pai, e a segunda nas imediações do Rio Comprido.

Cursou o primário no Grupo Escolar Francisco Cabrita, o ginásio no Colégio Paula Freitas e o científico no Colégio Universitário. Em 1945, se formou como advogado na Faculdade Nacional de Direito da antiga Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde também concluiu o doutorado três anos depois. Foi eleito presidente do Diretório Acadêmico por unanimidade e fundou com colegas da universidade um partido interno, denominado Partido Reformador, espalhando cartazes com a letra R pelo campus. Os cartazes foram interpretados pela Polícia Política de Getúlio Vargas como sendo uma alusão à Resistência Francesa. A confusão foi desfeita graças à intervenção do reitor Pedro Calmon.

Iniciou sua vida profissional como solicitador, cuja função é ser um representante de pessoas, empresas ou organizações públicas junto aos órgãos de administração, dos tribunais ou outras entidades nas áreas do direito, até fundar sua própria banca no final da década de 1940.

A família de Donato fundou a Companhia Industrial de Madeiras Barra de São Mateus e explorava a extração e a venda de madeiras nobres. No ano de 1945, adquiriram o Estaleiro Caneco, uma empresa carioca, situada no bairro do Caju, fundada em 1886, que tinha como atividade o restauro de navios.

Em 1947 se casa com Ruth Bezerra, com quem teve dois filhos: Maria Herminia e Roberto, que lhe deram cinco netos: Rafael, Patricia, Roberta, Daniela e Jack.

Em 1958, o setor naval recebeu grande incentivo do governo do presidente Juscelino Kubitschek, que em seu Plano de Metas criou o Grupo Executivo da Indústria da Construção Naval (Geicon). Um dos objetivos do grupo era estudar projetos de financiamento para a ampliação da capacidade de produção dos estaleiros brasileiros e estrangeiros que se instalaram no Brasil. JK também criou o Fundo de Marinha Mercante (FMM), medida importante para o desenvolvimento da indústria naval. Em 1960, Donato assume a direção de todas as empresas da família: Indústrias Reunidas Caneco S.A., Estaleiro Caneco, Companhia Industrial de Madeiras Barra de São Mateus e Navegação Artur Donato Ltda.

Já com Donato na direção das empresas, foi aprovada no Geicon o projeto do Estaleiro Caneco, permitindo a construção de embarcações com mais de cinco mil toneladas de porte bruto (TPB). Em 1960, o estaleiro recebeu a primeira encomenda de uma embarcação de 3.040 TPB. Por conta de problemas de tecnologia, e logísticas – normais na época - a entrega definitiva ocorreu apenas em 1966.

Durante os anos de 1960, suas empresas ampliaram a produção e, entre 1962 e 1964, ficaram em 4º lugar no ranking da indústria naval, segundo o critério de navios entregues com tonelagem acima de mil TPB. Já durante o regime militar aconteceu o I Plano de Construção Naval, iniciando nova fase de incentivo ao setor. Donato investiu em tecnologia e ampliou a capacidade do Estaleiro Caneco. Neste período abriu a Fermasa Máquinas e Equipamentos S.A., empresa de componentes mecânicos para navios.

Entre 1964 e 1966 foi representante dos Empregadores no Conselho de Administração do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Marítimos. Após apoiar a fusão do antigo estado da Guanabara com o estado do Rio de Janeiro, Donato, por indicação do almirante Floriano Peixoto Faria Lima, primeiro governador do novo estado do Rio (1975-1980), passou a ser um dos três integrantes do empresariado na Junta Comercial do estado do Rio de Janeiro (Jucerja), onde ficou por 4 anos.

Mesmo com a crise do petróleo, cujos efeitos demoraram a aparecer no setor por causa dos planos de desenvolvimento dos governos militares, nos anos de 1970, o Estaleiro Caneco ficou entre os quatro primeiros colocados no ranking, entregando encomendas de 52 mil TPB em 1974.

Entre o começo dos anos de 1980 e o início dos anos de 1990, o setor viveu um momento de queda por conta de políticas de governo. Com isso, em 1986, a Fermasa foi desativada. Donato deixa a presidência das Indústrias Reunidas Caneco S.A. em 1990, para assumir um lugar no conselho de administração da empresa.

Entre 1980 e 1995, Donato presidiu a Firjan. Após encerrar seu último mandato como presidente da entidade, passou a se dedicar exclusivamente ao Grupo Donato, composto pela empresa holding Artur Donato S.A. Comércio e Participações, Agropecuária Aliança Ltda, Disa — Destilaria Itaúnas S.A., Alcooleira Mateense (Almasa) e Engenavi — Engenharia Naval e Industrial e Estaleiro Caneco. Em 1998, foi vice-presidente da Companhia de Eletricidade de Nova Friburgo.


TRAJETÓRIA ASSOCIATIVA E ATUAÇÃO NA FIRJAN

A carreira de Donato em entidades associativas começa em 1961 quando assume a presidência do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Naval (Sinaval). Exerceu ao todo três mandatos: de 1961 a 1963, de 1965 a 1967 e de 1970 a 1973. Em março de 1977, se tornou presidente da Estaleiros Associados do Brasil (Esabras), entidade com o objetivo de promover a exportação de navios. Ficou à frente da Esabras por 10 anos.

Sua trajetória na federação das indústrias começa em 1966 como suplente da diretoria da Federação da Indústrias do Estado da Guanabara (FIEGA). Em 1975 a FIEGA e a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIERJ) se fundem e dão origem à Firjan. De 1977 a 1980, Donato foi vice-presidente da Firjan.

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O empresário da indústria naval assume a presidência da Firjan e do Centro Industrial do Rio de Janeiro (CIRJ) em 1980, por votação unânime, sucedendo Mário Leão Ludolf. Em sua gestão, promoveu diálogos com empresários do interior, criando núcleos regionais de representação, visando a consolidar o processo de fusão do estado do Rio. Em sua gestão foram criadas mais quatro representações regionais, perfazendo sete representações para atender necessidades específicas das indústrias locais. O número de unidades operacionais do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) cresceu de 22 para 42 com implantação de centros de formação profissional, agências

de formação e unidades móveis. O Serviço Social da Indústria (SESI) construiu ou modernizou 15 unidades de atendimento sendo 11 delas no interior. Donato inaugurou, ainda, o Centro Internacional de Negócios (CIN), com a missão de inserir o produto brasileiro de forma competitiva na economia mundial. Também auxiliou no desenvolvimento de importantes projetos para o Rio, como o Polo Petroquímico de Itaguaí e o Porto de Sepetiba. O amigo e empresário João Barbará relembrou a visão a frente de seu tempo do então presidente da Firjan.

- No começo da época do Donato, a Firjan não tinha nenhum esquema de comunicação interna, nem externa. Então o Donato, com sagacidade que tinha, me chamou, pediu para ver se eu conseguia organizar. E nós fizemos um boletim que corria semanalmente. O Informe Firjan/CIRJ, em que a gente dava resumidamente tudo que a diretoria e o conselho tinham feito naquela semana. – contou João Barbará em entrevista ao Memória da Indústria sobre o início da área de Comunicação da empresa.

Ainda na presidência de Donato, a Firjan evolui na articulação com as esferas de governo. Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, que o sucedeu na presidência da Firjan em 1995, falou sobre em entrevista ao Memória da Indústria em 2023.

- A Firjan tinha uma marca de seriedade, porque, felizmente, sempre tivemos dirigentes dignos. O Donato começou a interiorização da Firjan, deu o primeiro passo. Ele fez uma coisa muito importante: deu instrumentos, ferramentas. Naquela época não tinha tecnologia, ferramentas físicas para poder trabalhar. Então ele fez aquele prédio [a sede da Firjan no centro do Rio de Janeiro].

A construção do novo edifício-sede da Firjan, na esquina da rua Santa Luzia com avenida Graça Aranha, no Centro do Rio, foi um divisor de águas na entidade. O prédio também abriga as sedes de Firjan CIRJ, Firjan SESI, Firjan SENAI e Firjan IEL (Instituto Euvaldo Lodi), e foi batizado como Centro Empresarial Artur João Donato.

Em 1995, Donato se torna vice-presidente da CNI durante a gestão de Fernando Bezerra, tendo o substituído interinamente a partir de abril de 1998.

Em seus 41 anos de atividade associativa nas mais diversas entidades, Arthur João Donato foi, entre outras coisas, fundador e conselheiro fiscal da Sociedade Brasileira de Engenharia Naval, diretor regional do SESI, presidente do Conselho Regional do SENAI, do conselho diretor do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Gerencial (IDEG) da Fundação Brasileira de Tecnologia da Soldagem, do Conselho Regional do IEL e do Centro Internacional para Educação, Trabalho e Transferência de Tecnologia (CIET). Foi membro do Conselho Empresarial de Assuntos Estratégicos da Associação Comercial do Rio de Janeiro, do Conselho Superior do Parque de Alta Tecnologia do Norte Fluminense e do Conselho do Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro. Chefe e delegação patronal do Brasil em reuniões anuais da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Representante da CNI na Organização Internacional dos Empregadores (OIE).

Em 2002, foi condecorado com a Medalha do Mérito Industrial do Rio de Janeiro.

Arthur João Donato morreu aos 80 anos no dia 21 de dezembro de 2002.

Fontes:

Arthur João Donato, Sistema Firjan, GEIEL; Perfil de Arthur João Donato no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, disponível em https://www18.fgv.br/CPDOC/acervo/dicionarios/verbete-biografico/donato-artur-joao, acessado em 29 de março 2025; Notícia da Folha de São Paulo “Empresário Arthur João Donato morre no Rio”, disponível em https://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u61013.shtml, acessada em 29 de março de 2025, Entrevista de João Barbará ao Projeto Memória da Indústria/FIRJAN, realizada em 18/04/2024; Entrevista de Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira ao Projeto Memória da Indústria realizada no dia 11 de novembro de 2023; Jornal O Globo do dia 22 de dezembro de 2002 “Obituário de Arthur João Donato”.