Antonio César Berenguer Bittencourt Gomes
Foi industrial do setor têxtil, presidente do Conselho Técnico Administrativo (CTA) do SENAI CETIQT, contribuiu para a criação de feiras de moda como a Fashion Rio, Gira Moda e Cria Rio.
“Sinto o cheiro de algodão onde entro, desde pequenininho. E o têxtil é uma indústria muito interessante, porque tem muitas etapas ao longo da produção, desde a fibra até o tecido acabado: começa com a limpeza do algodão para compor o fio que vem de uma estiragem e uma torção, segue para a preparação do fio para tecelagem, a tecelagem em si, e os acabamentos que vão da tinturaria à estamparia, além de outros tratamentos. São muitos estágios.”
Antonio Berenguer ao Memória da Indústria
A indústria têxtil está no sangue de Antonio César Berenguer Bittencourt Gomes. Carioca, nascido em 30 de maio de 1949, desde novo, cresceu praticamente dentro de uma das fábricas ligadas à família, da Companhia Têxtil Ferreira Guimarães. Filho do empresário Celso Gomes e de Lucy Guimarães Berenguer Gomes, passou parte da infância em Barbacena, onde estudou em uma escola pública e ao voltar ao Rio com 15 anos estudou no Colégio Santo Inácio.
- A indústria ligada à nossa família foi fundada em 1906 pelo meu bisavô materno, Benjamin Ferreira Guimarães em Valença, no estado do Rio. E depois ela foi crescendo em outras cidades. (...) Meu pai se formou engenheiro e foi convidado para ir à Barbacena. Quando chegou lá, foi recebido pela minha mãe, que lá estava de férias. Um ano depois eles se casaram. Moravam na casa da diretoria, que é uma casa muito bonita dentro do terreno da fábrica. Vivi nessa casa durante a infância, e ela tinha um portãozinho para o depósito de algodão. Tenho algumas cicatrizes de tombos no depósito. Convivi com a fábrica desde pequeno. E quando estávamos de férias, papai nos colocava para fazer alguma coisa: anotar, ver os fios interrompidos e fusos improdutivos na fiação, etc... Era um treinamento e, ao mesmo tempo, nos ocupava. – contou ao Memória da Indústria.
Berenguer estudou Engenharia na PUC-Rio. Formou-se em Cálculo de Edificações de Estruturas aos 24 anos e foi morar no Japão por um ano para fazer curso de especialização na área têxtil.
- Trabalhei em escritórios de engenharia. Praticamente todo escoramento da vala do Metrô da Cinelândia até a Glória foi projetado por mim. A escavação consistia em cavar grandes buracos, drenar água por rebaixamento de lençol freático, escorar e criar um ambiente para trabalhar lá embaixo e construir o metrô. Assim que me formei engenheiro, comecei trabalhando nisso, até que fui convidado para entrar na indústria. E aí pensei que precisava fazer alguma coisa de diferente. Consegui ser um dos dois escolhidos do Brasil para uma pós em engenharia têxtil no Japão.
A Companhia Ferreira Guimarães foi grande exportadora têxtil, principalmente a partir dos anos de 1960. Berenguer trabalhou com exportação e trouxe inovações montando uma fábrica de jeans em Valença, a segunda maior indústria brasileira do produto na época. Em sua trajetória profissional, frequentou muitas fábricas, fez carreira e foi presidente da companhia.
- Fiz a carreira desde engenheiro até diretor, diretor financeiro, depois vice-presidente e presidente. Eu já assumi a presidência no período mais difícil, em meados da década de 1990, quando toda a família saiu e eu permaneci. Foi uma época bastante conturbada, difícil até para achar soluções. As importações de tecidos leves da China ficaram muito baratas e a linha principal de nossa produção era de tecidos leves, portanto mais expostos, do que os tecidos mais pesados, tipo jeans, que era uma parcela pequena da nossa produção nesta altura. De uma forma geral, todo o setor têxtil foi muito prejudicado.
ATUAÇÃO ASSOCIATIVA E TRAJETÓRIA NA FIRJAN
Na década de 1990, após começar a frequentar e assumir uma diretoria no Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem (Sinditextil), Berenguer se aproxima da Firjan, onde ocuparia os postos de vice-presidente, na Firjan e na Firjan CIRJ, conselheiro e diretor do Centro Industrial do Rio de Janeiro (CIRJ).
Em 2001, o empresário foi convidado a assumir a Presidência do Conselho do Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (SENAI CETIQT), escola de excelência na formação para o setor têxtil. Berenguer também foi vice-presidente e atual conselheiro da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT).
- Muitos presidentes de empresas do país estudaram no SENAI CETIQT e se formaram lá. O curso técnico era longo, e lá eles aprendiam todo o funcionamento das máquinas, da química envolvida com tingimentos. Foi uma experiência muito importante e interessante. No princípio, estava muito ocupado, não tinha tempo, mas quando fui convidado para o CETIQT, que foi antes de ser convidado para Firjan, acabei assumindo e me encantei pelo projeto, porque a educação é uma saída óbvia para o Brasil.
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Em seu tempo na ABIT e no SENAI CETIQT, Berenguer participou de movimentos importantes do setor da moda no Rio de Janeiro, como a Fashion Rio, Gira Moda e Cria Rio.
- O Fashion Rio, em suas edições, proporcionava uma experiência muito interessante de conviver com profissionais do setor e de estar em um ambiente em ebulição, com pessoas empolgadas, compradores e estilistas, andando para cima e para baixo, nos desfiles nas apresentações e na interação sobre as novidades apresentadas nos estandes da Firjan, da ABIT, do Sebrae, enfim, dos sponsors. Foi um evento de uma simpatia e uma alegria muito grandes, marcante como chancela e difusão para a nossa cadeia da Moda no Estado do Rio – relembrou. Vídeo Fashion Rio e eventos: [01:23:51] [01:37:18]
Sobre o Centro Industrial do Rio de Janeiro (CIRJ), Berenguer ressalta a oportunidade que ele traz aos empresários de atuarem pelas causas da indústria junto aos governos municipais, estaduais e federal. Ele destaca o papel do associativismo na defesa dos interesses que são trazidos pelas indústrias aos seus sindicatos e que retornam não apenas para elas, mas para a sociedade.
"A Firjan é uma grande guardiã dos interesses da indústria em nosso estado e é reconhecida por isso em todo país. Tenho muito orgulho de pertencer a essa casa [Firjan] porque atuamos em prol da sociedade, da industria e em prol do setor, pelo qual militei a vida inteira. Aqui temos o convívio, o networking, e a atualização. (...)Então, a casa me proporciona a participação nessa atividade que gosto, que vivi a vida inteira e que conheço. E, modéstia à parte, conheço bem. Eu participei de uma forma, ou de outra, de todos os elos da cadeia. Só não plantei algodão, mas o resto participei. Acho que isso, estando ligado a esta casa, é uma bagagem que me enriquece.”
Antonio Berenguer ao Memória da Indústria
Fontes:
Entrevista com Antonio César Berenguer Bittencourt Gomes para o projeto Memória da Indústria realizada no dia 04 de julho de 2024.