As primeiras fábricas autorizadas

A chegada da corte portuguesa modificou profundamente a vida na colônia. Ainda na Bahia, o príncipe regente abriu os portos ao comércio com o mundo inteiro, pondo fim à exclusividade das transações com a metrópole, e revogou o famoso alvará de 1785, que proibia o estabelecimento de manufaturas e fábricas no Brasil. O Rio de Janeiro, de uma modesta vila colonial, passou a ser o centro do poder do império português. Montou-se toda uma estrutura administrativa, política e social para adequar a colônia às novas necessidades. Entre as instituições criadas, destaca-se a Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação. Outras medidas estimularam a criação de fábricas, de inventores e introdutores de máquinas, por meio de prêmios, privilégios e isenções.
Essas medidas em prol da industrialização ajudaram a estabelecer uma incipiente indústria de base. No mês seguinte à sua chegada, o príncipe regente assinou o decreto para a criação da Real Fábrica de Pólvora, na Fazenda da Lagoa Rodrigo de Freitas, nas mesmas terras onde seria instalado o Jardim Botânico do Rio de Janeiro. A Real Fábrica de Pólvora se manteve às margens da Lagoa até 1831, quando, em virtude de explosões, foi transferida para Raiz da Serra, onde hoje funciona com o nome de Fábrica da Estrela, administrada pela Indústria de Material Bélico do Brasil.
Em 1809, o intendente Manoel Ferreira da Câmara Bittencourt recebeu autorização para instalar a Real Fábrica de Ferro, no Morro do Pilar, em Minas Gerais, que fabricou ferro-gusa entre 1814 e 1822. Outro registro marcante foi a criação de uma siderurgia, em 1810, por ordem da administração portuguesa. A Fábrica de Ferro de Sorocaba, mais tarde denominada São João de Ipanema, destinada à extração e fundição de ferro das minas existentes em Iperó, São Paulo, é considerada a primeira sociedade de economia mista e a primeira a empregar homens livres, além de contar com o trabalho de mulheres.
Uma terceira experiência de fundição de ferro foi a Fábrica Patriótica, na região de Congonhas do Campo, na Província de Minas Gerais, instalada por um engenheiro alemão, o barão de Eschwege. A fábrica foi inaugurada em 1812 e funcionou por dez anos. Entre as três experiências, a Patriótica foi a que obteve melhores resultados e certa regularidade, marcando a transição da produção doméstica para a produção industrial do ferro em solo brasileiro.