A primeira indústria brasileira - O “ouro branco” movimenta a colônia

O cultivo de cana-de-açúcar teve início em 1533, com a instalação do primeiro engenho, na capitania de São Vicente: o Engenho do Governador, mais tarde chamado de São Jorge dos Erasmos. Com a instalação do Governo-Geral do Brasil confiado a Tomé de Sousa, em 1549, teve início um esboço de organização administrativa no Brasil, inclusive com a fundação da cidade de Salvador na Bahia. Para incrementar a economia local, incentivou-se a montagem de engenhos, isentando os construtores de impostos por dez anos. No entanto, foi a iniciativa particular que impulsionou essa indústria. A fabricação do açúcar é tida como a primeira produção industrial do Brasil, uma vez que a matéria-prima passava por diversos processos antes de ser entregue ao consumo.
Os engenhos foram se espalhando pelo litoral, mas os grandes centros produtores se concentraram na Bahia e em Pernambuco. De acordo com o jesuíta Fernando Cardim, em 1585, existiam 115 engenhos no Brasil. Em 1630, esse número havia subido para um total de 350, sendo que 150 localizavam-se em Pernambuco; foi o auge da indústria açucareira. A produção anual atingiu mais de 2 milhões de arrobas, despertando a cobiça dos holandeses, que naquele ano conquistaram a capitania, após uma primeira tentativa frustrada em Salvador seis anos antes.
Havia dois tipos de engenhos: os reais, por serem maiores e movidos por força hidráulica, e os trapiches, mais comuns, movidos por tração animal. O engenho, como uma verdadeira empresa, exigia um grande investimento financeiro. Era necessária uma extensão razoável de terras para o plantio dos canaviais, para pasto dos animais utilizados no transporte, para a casa do engenho, moendas, fornalhas, casa de purgar, dos senhores, a senzala e a capela. Precisava ser bem aparelhado com alambiques, formas e demandava mão de obra numerosa e bem treinada.
Os primeiros escravos africanos foram trazidos em meados do século XVI, iniciando um longo período no qual quase toda a produção nacional dependeria desse regime. Calcula-se que os engenhos menores possuíam entre 80 a 100 escravos; nos maiores, os números variavam de 150 a 200 escravos. Estima-se que entre os anos de 1540 a 1850, mais de 4 milhões de africanos foram trazidos para o Brasil, representando o maior fluxo escravista da história.
Além da fabricação de açúcar, os engenhos produziam aguardente da cana, a nossa cachaça, feita em “molinetes” ou “engenhocas”. A aguardente era utilizada no escambo de escravos. Logo essa produção também foi proibida pela metrópole, passível de penalidades severas, que poderiam chegar ao confisco de bens para seus transgressores. Outras atividades econômicas eram essenciais para a vida nos engenhos: a pecuária, o tabaco e a agricultura de subsistência. O gado era utilizado como força motriz, transporte e alimentação. Cabe ressaltar que o refino não era feito nem na colônia, nem na metrópole; os pães de açúcar seguiam para a Holanda, onde seriam refinados e surgiria o valioso ouro branco.
Na cidade do Rio de Janeiro muitos engenhos nomeiam alguns de seus bairros até hoje, como Engenho Novo, Engenho de Dentro e Engenho da Rainha. Os primeiros foram instalados após a expulsão dos franceses, em 1567. Um dos mais antigos foi o de Salvador Correia de Sá na área da Tijuca, seguido pelo de Antônio de Salema próximo à lagoa Rodrigo de Freitas, não longe do engenho de Martim de Sá.
Os padres da Companhia de Jesus, possuidores de grandes extensões de terras, também tiveram seus estabelecimentos. No Engenho Velho – uma área que abrangia Andaraí, Tijuca, São Cristóvão e se estendia até o Meier – nasceu a primeira fábrica de açúcar dos jesuítas. Nesse engenho, que se destacou por sua grande produção, foram construídas uma escola e uma igreja dedicada a São Francisco Xavier. Posteriormente, os jesuítas transferiram suas atividades para o local que ficou conhecido como Engenho Novo, uma instalação bem menor, demarcado dentro da área da primeira. Com a expulsão dos jesuítas em 1759 e o movimento de expansão da cidade, as terras do Engenho Velho ficaram bastante valorizadas.