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Uma esperança frustrada - O Plano Collor e o impeachment

01/1990

Em março de 1990, ao assumir a presidência da República, Fernando Collor de Mello estabeleceu como prioridade o combate à inflação, que havia se tornado um dos principais entraves ao desenvolvimento brasileiro desde a década de 1980. Seu governo adotou uma agenda de reformas voltada para a modernização do Estado e a liberalização da economia, com forte ênfase na desregulamentação, privatizações e abertura comercial. Collor criticava o que classificava como “pseudonacionalismo” das elites tradicionais e defendia a inserção do Brasil na economia globalizada.

Como parte dessa reorientação econômica, o governo lançou o Plano Collor, um programa de estabilização de forte impacto que incluía medidas drásticas. Entre as ações mais polêmicas estavam o confisco de depósitos bancários de pessoas físicas e jurídicas, o congelamento de preços e salários, a reintrodução do cruzeiro como moeda nacional e a extinção de 24 estatais, com consequente demissão de funcionários sem estabilidade. Também foram promovidos aumentos de impostos, como o IPI e a taxação sobre lucros do setor agrícola, além do fim de subsídios à exportação não previstos constitucionalmente.

Essas medidas geraram forte retração econômica. A indústria nacional, em especial, foi duramente atingida. Dados da FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) revelam que, em maio de 1990, 17.296 trabalhadores foram demitidos no setor industrial fluminense — o dobro do registrado no mês anterior. O percentual de empresas que realizaram demissões saltou de 13% para 36%. A pesquisa, centrada na indústria de transformação, apontava setores como o têxtil, metalúrgico, de materiais elétricos e minerais não metálicos entre os mais afetados. Além disso, uma queda de 28% nas vendas industriais foi registrada no primeiro semestre do ano em relação ao mesmo período de 1989, com abril sendo considerado o “fundo do poço” da crise.

Apesar de concordar com os princípios do Plano Collor — como a abertura ao capital estrangeiro e a modernização produtiva —, a FIRJAN criticava a forma de sua implementação e defendia regras mais adequadas à realidade dos setores industriais, evitando danos à competitividade nacional.

No plano internacional, o governo Collor também buscava maior integração regional. Em 1990, firmou com o presidente argentino Carlos Menem um acordo bilateral de integração econômica. No ano seguinte, esse processo avançou com a assinatura do Tratado de Assunção, que formalizou o Mercado Comum do Sul (Mercosul), incorporando Paraguai e Uruguai como membros fundadores ao lado de Brasil e Argentina.

Contudo, os resultados econômicos frustraram as expectativas. A inflação logo voltou a crescer e, diante do fracasso do primeiro plano, o governo lançou em janeiro de 1991 o Plano Collor II, que manteve a política de congelamentos. A combinação entre recessão, desemprego crescente e escândalos de corrupção levou a uma forte perda de legitimidade do governo. A crise culminou em dezembro de 1992, com o processo de impeachment de Collor, amplamente apoiado pela sociedade civil e impulsionado por movimentos de juventude como os ""caras-pintadas"", que tomaram as ruas em protesto contra a corrupção e a ineficiência do governo.

O vice-presidente Itamar Franco assumiu o poder em meio a uma conjuntura extremamente adversa. Enquanto o PIB da América Latina crescia 4% em 1992, o Brasil registrava uma retração de -1%, sinalizando estagnação. O ano de 1993 foi ainda mais grave: a economia brasileira enfrentava uma hiperinflação descontrolada, que ameaçava alcançar a marca de 2.000% ao ano — uma das maiores já registradas no mundo. A produção industrial seguia estagnada, o déficit público aumentava, e os índices de desemprego permaneciam elevados.

Nesse contexto, o setor produtivo continuava a pressionar por reformas estruturais e investimentos regionais. Em outubro de 1992, a FIRJAN realizou a V Plenária da Indústria e Comércio (Pleninco), propondo projetos para revitalizar a economia fluminense, como a instalação de uma montadora de veículos, um polo petroquímico e um centro industrial portuário em Sepetiba. O empresariado reforçava suas expectativas de que o novo governo promovesse austeridade, estabilidade e eficiência, preparando o país para competir em um mercado cada vez mais globalizado.

Ao final do governo Itamar, em 1994, foi lançado um novo plano de estabilização econômica: o Plano Real, que introduziu uma nova moeda e consolidou o esforço de controle inflacionário iniciado ainda no final da década anterior. O plano representou um ponto de inflexão na trajetória econômica brasileira, encerrando o ciclo de instabilidade hiperinflacionária e pavimentando o caminho para um novo modelo de crescimento sob os marcos da estabilização monetária e da economia de mercado.