O estado da Guanabara - Uma cidade-estado

A transferência da capital para Brasília gerou um amplo debate sobre os rumos da cidade do Rio de Janeiro. De um lado, os defensores de sua fusão com o estado do Rio de Janeiro, do outro, os contrários a ela, chamados de “guanabarinos”. As discussões sobre qual identidade político-administrativa deveria ser adotada pela antiga capital do Império e da República se estenderam até 1960, quando foi efetivada em 21 de abril a sua transformação em estado da Guanabara, no mesmo dia da inauguração de Brasília. Capital do Brasil desde 1793, o Rio de Janeiro deixava portanto de ser Distrito Federal e capital do país, depois de 197 anos.
O estado da Guanabara, delimitado por uma pequena área de 1.171 quilômetros quadrados, tinha em torno de 3,3 milhões de habitantes, com alto índice de alfabetização: 85% da população. Era uma força econômica significativa, estando atrás apenas de São Paulo. Por certo tempo, a cidade manteve-se como o centro das decisões nacionais, uma vez que parte dos ministérios custou a efetuar sua transferência. Carlos Lacerda foi eleito governador do novo estado, ainda em 1960.
O Serviço Nacional de Recenseamento realizou, em 1960, um censo que revelou o estado da indústria na nova unidade federativa do país. Existiam na Guanabara 5.271 unidades industriais, não estando incluídas as indústrias de construção civil e as de serviço público. O estado da Guanabara ocupava o segundo lugar entre as unidades da Federação com maior potencial industrial. Era ainda um dos maiores parques fabris da América Latina.
Naquele momento as indústrias alimentares apareciam com o maior número de unidades, a saber, 1.159; seguidas por indústrias de vestuário, calçados, artefatos e tecidos com 685 unidades; indústrias de mobiliário, 532; metalúrgicas, 486; gráficas, 366; transformação de minerais não metálicos, 352; madeiras, 255; produtos medicinais e especialidades farmacêuticas, 164; perfumarias, sabões e velas, 137; mecânica, 133; química, 131; papel e papelão, 110; material elétrico e de comunicação, 106; material de transporte, 93; têxtil, 85; bebidas, 67; de matérias plásticas, 41; couros e peles, 31; borracha, 25; fumo, 6; extração mineral, 5; e diversas 302.
Nos quadros apresentados pelo censo industrial, a circunscrição do Engenho Novo possuía o maior número de unidades fabris: 453. Seguiam-se os bairros da Penha, 433; São Cristóvão, 374; Inhaúma, 261; Santo Antônio, 254; Madureira, 251; Irajá, 243; Espírito Santo, 240; Andaraí, 218; Santana, 200; Sacramento, 184; Gamboa, 176; Rio Comprido, 154; Realengo, 147; Méier, 140; Piedade, 139; Jacarepaguá, 138; Copacabana, 97; Lagoa, 79; Santa Teresa, 73; Tijuca, 71; São Domingos, 67; Campo Grande, 64; Anchieta, 62; Gávea, 57; Glória, 48; Ajuda, 30; Santa Cruz, 29; São João, 26; Candelária, 25; Ilhas, 19 e Guaratiba, 13.
Nessa época, a indústria naval no Rio de Janeiro começava a ganhar corpo, com a instalação do Ishikawajima do Brasil Estaleiros S.A. – Ishibras, em 1959, que fazia parte do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek. São Paulo havia ganhado a indústria automobilística e o Rio ficaria com a naval. Localizado na ponta do Caju, o Ishikawajima marcou o ressurgimento da indústria naval carioca. Pouco tempo depois, o navio Volta Redonda inaugurou a produção do estaleiro, responsável pela construção de navios de carga gigantescos e que chegou a ser o maior do hemisfério sul.
A década de 1960 foi marcante para a cidade, novas reformas urbanas foram realizadas, merecendo destaque a construção do Aterro do Flamengo e de vários novos túneis na cidade, dentre eles o Rebouças. Além disso, o Rio ganhou um novo museu dedicado à arte moderna, o MAM.